quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Ephemera


Três nuvens em forma de vento me escapam entre os dedos em parcelas simplistas de algodão doce. São três carneirinhos que pulam do céu, cantarolando cantigas até eu dormir. Quando tento tocá-los, se desmancham em alguma coisa que não sei o nome, mas continuam desenhando no ar, como uma partitura de uma canção cheia de desenhos múltiplos de outras coisas, que também não sei como nomear. 

Meu indicador coordena um caminho disforme, com curvas em todas as direções. Parece um rio de nevoeiro branco daquela manhã sinistra, cujo dia se esqueceu de nascer, escondido atrás das gotículas de azul desperto. Me surgem memórias em paisagens distintas, em posição de lótus para uma oração só minha. É estranho observar caminhos em uma brincadeira de paz difusa. Uma aura que o coração sopra, o momento relembra e tudo se desfaz outra vez.

Douglas Ibanez
(24.08.2015 - 19h32)


sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Direcionamento Confuso


Não sou bom em palavras diretas ao ponto.
Elas se tornam sem graça ao meu ver criativo.
Um jogo tão rápido que se perde no ganho.
Decisão sem volta. Aperte o gatilho.

Sempre flertei com palavras cruzadas.
Encantadoras serpentes que hipnotizam.
Meus dedos são flautas, que seduzem o caminho.
Constroem um discurso que você nunca ouviu.

Melancolia que pensa no latim às avessas.
Não suporto a ideia de me igualar ao comum.
Brinco de mago, ao transformar as fronteiras
Em uma transparente parede sem riso nenhum.

Um mímico.
Meu senhor palhaço que canciona em rosa.
Respiro a poeira que bagunça tudo.
Desnecessária rinite. Correria do luto.

Grito poesia no lugar de verdades.
Não permito o acaso sem pincelar meu artista.
Me guio no escuro apalpando o muro.
Choro por unhas que descobrem tinta.

Que escandaliza: SINTA!
E te expulsam daqui. 

Douglas Ibanez
(14.07.2015 - 00h28)


segunda-feira, 3 de agosto de 2015

O Que Eu Quero?


Queria pousar em uma pista de voo, com destino direto à emissão claustrofóbica de um quarto fechado. Deitar-me nas sombras de uma escuridão qualquer. Não tenho exigências. Tampouco ordens condecoradas com eufemismos. Só preciso silenciar o momento que desconcerta toda a bagunça que se devaneia em mim. Sem mais filhos carentes: bastardos alegres. Seus corpos em epilepsia noturna. Os desligo com o finalizar de um estrobo. Não quero olhos. Não quero dentes. Sem bocas, sorrisos e afins. Tiro-me a roupa e me visto de um céu estrelado que me conforta em destreza do que quero assim. Giro o botão em um longo caminho, com mais de um pouquinho de própria comunhão. Você pode participar, contanto que não me leia. Busco aquele que não saboreia minha dose de ilusão. Venha, estou aqui.

Douglas Ibanez
(22.05.2015 - 00h17)