segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

O Desmar


São as mesmas pessoas
me rodando no parque.
Me oferecendo o mesmo
que o de ontem.
E o desontem.

Brincam da mesma cilada,
terminada em farpas.
E desenham na areia
o que o mar não quer ver.
O desmar.

Douglas Ibanez
(25.11.2015 - 23h24)



 

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Absorto


O caos me soca aos ouvidos um urro de agouro que me faz arrepiar. É a sentença de morte da paz que aqui vive. Meus vizinhos me espantam em uma fúria de intrigas. Soluçam seus prantos em mantos sem forma, que se aproximam e sorriem desfigurados. Eles tocam meu braço ao possuir minha garganta - um orgasmo sem eco. E ninguém escutou. Sinto cheiro do incrédulo que agonia a alma em um chute sem metas. Não há objetivos em uma anarquia de horrores. O terror me acerta e me xinga de "trouxa". Prova de mim. Me derrota com gosto. Lambe meu rosto em um gozo sem jeito, profundo e profano. Sou devorado por dentro. Uma cadeia de trevas - circular e alheio. Eu furo manchado em passageiras suturas. O monstro se agita, me pega e balança. Encontra a saída, mas antes me beija, me arqueja e cospe em minha cara promessas de um retorno surpresa.

Douglas Ibanez
(12.11.2015 - 19h31)







segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Enigma Sazonal


Olho o espelho,
te vejo sorrindo.
Me culpo sem culpa,
sem boas-vindas.

Continuo olhando, agora
sua expressão corporal.
Ela fala comigo, certeza,
mas é dúbia - um tabuleiro.

Não entendo.
O silêncio bate o martelo
e minha filosofia funciona.
Há algo que eu sei que há.

Como te chamo?
Uma distância levemente gelada,
sem perigos de voos quaisquer.
Isso te serve? Protege?

Sem abraço, mas o sentido me diz.
Aquele sexto que te é de orgulho.
Eu também tenho: detalhes,
uma colcha de retina bem aberta.

Minutos - tudo passa.
Me revejo e questiono,
só penso, nada mais.
Devolvo no beijo um mistério de cada vez.

Douglas Ibanez
(18.11.2015 - 00h30)