quarta-feira, 24 de agosto de 2016

O Sangue Inglês


Cada toque é uma gota de sangue em um rio seco, cheio de memórias de ninguém, que nunca aconteceram. Mas elas são inesquecíveis. E você precisa pagar o preço, por banhar-se em águas tocadas pelo o que não mais existe. Eu bebo do cálice que se quebrou em partilha: um pedaço de mundo para cada um. Que venham as dezenas de histórias que o povo repete e repele, ao mesmo tempo, uma ínfima parte da coerência que é o pensar. E as verdades continuam correndo, sem estrutura para observação, e enquanto corre, ela escorre, discorre e morre uma morte de um toque, que se apagou novamente.

Douglas Ibanez
(02.06.2016 - 0h13)


quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Brilho na Tormenta


Uma luzinha constante, na palma da mão, é um aceno distante que o momento lhe entrega. Não é cheia de brilho, contemplado em camadas... aquele desperdício que o fogo chama de si próprio. Só vejo uma cria, sem medo e sem a cina de que algo vai dar errado. 

Contraria as tendências de um mormaço inquietante, que queima a pele sem nem existir no calor do segredo - uma gritaria sussurrada no invisível. Não, essa aqui reverbera no não obstante, enquanto derrete a bondade de uma fé que o céu tirou do mundo. 

São escalas de cinza de um dia chuvoso, que não atingem a luzinha, soberana na queda de uma gota de hoje. Enquanto os olhos permanecerem abertos, há muito a ser visto em um horizonte qualquer.

Douglas Ibanez
(07.06.2016 - 00h36)


quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Ego


Há um monstrinho enrolado manta, que cresce em palavras comidas, após descer pelo esôfago de quem escutou. Ele cresce todos os dias e se desmancha quando ninguém mais o chama... sem sua alimentação. Mas salienta, com atenção, que encontrou em si mesmo o centro do mundo e pede perdão por ser quem é, pois o maduro continua verde e as palavras bonitas são vomitadas para fora, como quem se preocupa, apenas, com uma digestão de vaidades regradas. Sem falas. E com uma dose retida de coesão.

Douglas Ibanez
(15.05.2016 - 23h41)


quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Bercolocado


O que seriam dos detalhes,
sem meus olhos que os observam?
Os carrego no colo, com paciência,
e amamento, desconjuro, o natural.

Reconfiguro a partir da cena, entrelinhas,
que escrevem o honesto sem nem notar.
E sinto o poder ao ler cartas sinceras,
de uma rotina metódica que vira poeira.

Os segredos reagem ao toque certo,
as pessoas se escondem - se mostram.
E eu... bem, eu só conto as histórias
que o silêncio disse de olhos fechados.

Pois é nele que transcendem os desejos
e a verdade das coisas,
que ninguém sabe.
Nem mesmo você.

Douglas Ibanez
(15.06.2016 - 8h16)