segunda-feira, 23 de abril de 2018

Crise de Identidade: Eu hein!


Um estranho numa terra estranha, tão estranha quanto o estranho lugar de onde o estranho veio. Era estranho o quão estranho o estranho se sentia entranho e como essa estranheza era estranha aos estranhos olhos estranhos, dos estranhos do estranho lado de fora. Estranharam uns aos outros como estranhos, que estranhavam os estranhos tão alheios que a estranheza não conseguia adotar, estranhamente. Era estranho, definitivamente. Eu hein.

Douglas Ibanez
(28.02.2018 - 1h43)

segunda-feira, 16 de abril de 2018

God help me!


Me perdi da minha mãe. Soltei sua mão em meio a multidão. Dezesseis anos eu tinha e meu velho floresceu com um cara barbudo que não escuta sem antes escutar vozes no lugar de vezes e, às vezes, isso acontece bem quando os anjos passam e não dizem amém.

O que se perdeu se foi como água rodando no ralo do banheiro, ao contrário, distorcida e retorcendo cada coisa que eu não ouvia ou dizia - ou queria dizer. Eram ecos, hoje gritos sem se repetirem, e os dezesseis anos fizeram aniversário numa festa sem eu. Porquê?

Douglas Ibanez
(21.03.2018 - 20h40)



segunda-feira, 9 de abril de 2018

Dadear: Dança da Lua


Pisei na terra. Os grãos afofaram o dia a dia
de meus pés cansados. Sobre a cabeça, a luz branca
onde o coronário transluz como alma sendo um vapor.
Eu olhei para cima.

Dancei sob a lua uma coreografia que era,
mas tão era que era apenas minha. Nem sua foi!
Entretanto, eu lhe dei cada oitava em passos largos,
sedentos por aquela fumaça tão bem-almada,

onde a terra ainda (...)
conseguia enxergar. Fechei os olhos, girei, rodei,
descobri o que era e larguei de mão - se soltou ao mundo
e voltou para mim. Me ajoelho, a terra brilhando.


Douglas Ibanez
(06.03.2018 - 14h43)


segunda-feira, 2 de abril de 2018

Crise de Identidade: Carne Maluca (Louca)


Era um pontinho laranja
naquele tudo tão branco.

"Como podia ser tão branco
sem haver nada ali dentro?",
Se perguntava alguma voz
que não se achava muito lunática.

O ponto disse que sabia,
mesmo sem saber.

"Se você fala comigo,
quer dizer que tudo está com nada dentro?",
Tão danada, essa caralha!
"Cala a boca, sua louca, maluca, doidona!"

Retorcida, eu diria.
O contrário da palavra, intocada.

Exagerou, como quer nada,
mas olha só, ele corria pelo espaço!
"Eita pontito abobalhado,
corre, corre e volta e meia cai pro lado".

Senhor pontoso só olhava,
onde o chão ele descia.

"Como pode, vossa alteza,
ser tão próximo do alvo?",
devolve a coragem, essa droga de coisinha,
tão marrenta, ascendente!

No caminho da rodada, laranjeiras
marcam a hora de crescer: misturar-se.

"Simbora minha amiga, chega dessa,
me embora e não degola, olha a vida",
olhava agora, sem querer olhar pra fora
era aquele o caminho.

O pontuado pontuou, sem pressa.
Meu... olha a arte, minha gente! Olha a arte!

Douglas Ibanez
(28.02.2018 - 1h30)