quinta-feira, 19 de julho de 2018

O Desaparecer: Buraco Negro


Nasceu branco, como um brilho na janela às onze da manhã. Explodiu, como milhares de fagulhas em meu peito, quando a cor virou catarata e me deixou sem vista para o que tocava tão sutilmente - eram cordas de um coração sem partituras para o precipício. Assim como hoje, pulando alguns dias de um calendário maluco que eu inventei, como se fosse uma carta escrita por um morador de rua, que vende poesias de porta em porta em busca de alimento para sua alma, escorrendo pelos seus dedos como letras sem contexto e moedas sem valor.

O coloquei no meio de um livro - o meu livro. Escolhi a página aos dedos, após lambê-los para folhear com uma cautelosa pressa que tive em me desrespeitar por opção. Revejo minha opinião: falha. Me amo? Me revejo, na verdade - me detalho, retalho e cantarolo pianices que eu achei que entendia tão bem. Eram folhas novas e ontem, só ontem, amareladas, como uma promessa envenenada que o relógio escreveu, com seu poema em ponteiros surdos. Duros, devaneios.

Está lido como (...) enquanto lido sem jeito de me fazer me entender o necessário, para o ser descer novamente, enquanto desaparece de maneira tão simplória. Eu falo francês: eu gosto disso. Meu rosto fica vermelho no vento gelado, me corta e me sangra e, quase que imperceptivelmente, me implode descabível de qualquer noção do que é o cima ou o baixo. Relevo-me em alto, bebo um gole, me sugo pela passagem e sumo de vista como um astro, caindo sem cair de uma altura, sem forças para ser medida.

Douglas Ibanez
(16.04.2018 - 01h29)


sexta-feira, 13 de julho de 2018

O Descer: Fraqueza Titânica


Carrego o céu enrolado no pescoço, como sentença de um julgamento que começou culpado e terminou perdido, sem ao menos saber para que lado virar. Só que o nó aperta depois de estar frouxo - vai, volta. Rodopia! Sem saber encaixar o veludo escuro que cobre meus ombros.

Eu entendo de tanta coisa, ao mesmo tempo que não bebo aquilo que ensino - faça o que faço e acabará como eu; tomei sequelas com rodelas de açúcar, em uma dose de quedas que não deu para contar. E eu vou cair, mesmo tão fraco. E eu vou ter dúvidas, apesar de já as ter.

O céu muda de cor como numa borboleta amarrada no pomo, eu brinco com ele e me engasgo como que nem vem, nem bem-vindo. São estrelas mortas, como uma lua que tenta manter o seu brilho, noite sim, noite menos e noite nada. Escuridão é o momento e o que é novo permanece na nova, sem prova ou limite do cair.

Douglas Ibanez
(09.04.2018 - 03h33)



quinta-feira, 5 de julho de 2018

O Ser: Gravata Noturna


Eu abro a janela só um pouquinho, me endireito no parapeito e olho para a noite. Passava das duas da manhã, na verdade era quase três, poucos minutos para acabá-los, ou começá-los, tanto faz a ordem, para ser honesto. Eu não fazia ideia do porquê de estar acordado a essa hora. Insônia, obviamente. Suspiro o inspiro do ar a minha volta, um vento gelado bate no meu rosto com classe. Eu gosto.

Sinto como se a noite fosse um tecido colossal, feito para vestes de seda de quando um deus, ou alguma criatura do tipo, celebra uma era de anos docentes sem a decência de costurar a barra. Mas costuras são sempre bem-vindas. EU me vestiria se fosse algo do gênero: uma gravata borboleta tingida do mais verdadeiro tom da noite, estrelado - contando estrelas. Sorrio e observo lá longe, sem compromisso com prazos ou limites. Só olho.

O céu está limpo, apesar de frio. Mas grato estou mesmo assim, consigo dormir de olho aberto e com visão POTENTE, PRESENTE, mas sem nenhum tipo de ONI - sinto paz com este acordo e é simplesmente isso. Enrolo minha franja numa mecha malcriada, ergo meus dedos como varinhas e dedilhos feitiços, cantigas (...), danças. Promessas? Só rio e deixo seguir, desaguar - e está tudo bem.

Douglas Ibanez
(27.03.2018 - 03h12)