segunda-feira, 13 de maio de 2019

Cansado de todos vocês


Portas cerradas, lado a lado
De uma parede gelada.
Escuto gemidos, escuto perdidos,
Perdidos no ventre.

Então entre!
Não precisa bater, mas me bata,
No corpo, na cara,
Na alma lavada em torcer absorto.

Olho no mágico do olho,
Olho-me olhando de volta.
Boca torta, vontades ilusórias
Em desilusões de daqui a cinco minutos.

Na próxima, olho-me sem o eu,
Que não é o mesmo que o meu.
Nos conhecemos, perdidos,
Perdendo vazio... beijando o vácuo.

Eu conhecia todos eles,
E eles conheciam todos de mim.
Luzes se apagam, lâmpadas estouram
Como reflexos à velocidade cortante.

Quando eu era mais velho, há segundos,
Eu não entendia.
Seria o conhecer do outro o intuito
De uma frequente forma de covardia?

Douglas Ibanez 
(24.04.2019 - 1h25)

segunda-feira, 6 de maio de 2019

Da minha janela


Eu sou míope, sabe?
Entretanto, esta noite, tirei os vidros
Na curiosidade de ver, antes que acabe,
O que escuto com meus ouvidos.

Ah!
Cheiro de noite, vazio de tão cheio,
Repleto de foices e doces,
Da verdade crua das esquinas que não noto.

Eu vejo no fundo, luzes, desmioladas,
E voto para que estejam
Sentadas no horizonte, balançando pernas.
São menininhas.

Bolhas de luz espalhadas, civilizadas,
Contando a história de um sono interrompido,
Desnutrido por sua fissura,
Bebendo d'água no frio do momento.

Olho a mesa, mesmo que míope,
Toco a brochura e o dever me chama.
Falta tinta, falta vontade.
E eu volto para o horizonte - como amo!

Percebo outras luzes,
Longas como serpentes.
Estão vazias de um dia que dormiu.
Eu sinto o suor e o barulho.

Vejo essências andando, como almas
Em contraste com suas sombras,
Vagando em batalhas
Em universos isolados, que sorriem.

Está tudo bem e as bolhas de luz,
Aquelas mesmas, lá do começo,
Também andam pelas serpentes,
Devagar, como parasitas bem-vindos.

O cheiro do ar é inconfundível,
Aroma do sono que me foi tirado,
Gelado como um beijo tardio,
Renovador como banho salgado.

Douglas Ibanez 
(06.05.2019 - 1h18)