Todo dia me pergunto, qual o limite que divide a sanidade da loucura. Talvez seja uma corda, trançada a outras duas com a força necessária para segurar um navio e não deixar que o insano navegue pelos mares e males profundos de uma mente adocicada.
Ainda assim, pode existir uma fina linha turva, de seda extraída direto do bicho, tilintada de marfim e molhada ao som do calejado orvalho da manhã, que costura o louco com o inlouco, enquanto mescla seus tecidos de segunda mão, transformando toda sua insanidade normalizada ou normalidade insana em uma psicodélica colcha de retalhos para aquecer o nosso são.
Mas é claro que isso é subjetivo. O espelho da reflexão contrária pode refletir o mundo enlouquente inexistente de nossa mente difusa ao mesmo tempo que nos permite um escape de um mundo sem barreiras, onde as maravilhas acontecem e os relógios correm no sentido contrário, enquanto o tempo parece não passar. Ele corre, corre e corre, como se estivesse atrasado para um chá das cinco ou das seis, mas ainda continua parado em sua loucura habitual de tecido azul profano e lívido.
Ah! Como eu queria nadar nos mares prateados do mundo espectral de um espelho sem fim. Descobrir as verdades guardadas e as mentiras infiltradas em suas aparências reais da mente humana. Me banhar de confusão e mergulhar no proibido oculto da realidade absorvida e de sua verdadeira face desmiolada, enquanto me enxergo do outro lado, olhando e pensando enquanto questiono sua real existência.
Todos nós temos a opção do retorno, que nos protege do perigoso infinito de destruição. Pode ser aquela corda trançada, louca e insana, que nos salva do prazeroso afogamento nos mares dos males internos do nosso ser. Ou a linha fina de fada que nos trás a superfície e nos dá o verdadeiro ar tingido de vermelho que nos carrega pela vivente imensidão.
Mas o que é uma vida em segundos espelhados, senão apenas o encontro de seu olhar carente com a solidão de teu eu. O vago irrespirável que se traga para fora como uma fumaça de cor desconhecida, impregnando em nosso ser e tornando aquilo que algo misterioso nos diz que é.
Sabe, nadar nos sete oceanos do incerto em busca de respostas para o impossível não é tão necessário quanto o beber de suas águas e trazê-las para a realidade morbidante de uma vida sem imaginação. Seca, dura e totalmente desigual por suas igualdades.
10 comentários:
É lindo, a linha é discreta, tênue, tão invisível que as vezes circulamos entre os 2 lados..rs
bjkas
ps - casar na praia deve ser tudo de bom, né?
bj
Achei seu texto lindoooooo :)
Leve, elegante e bem escrito. Gosto do seu estilo, é limpo, prende a atenção... vc é realmente muito bom!
Um beijão,
Alê
Boa semana!!
bjinhos
Douglas, que texto é esse!!!
Mexe com contradições mto bem!!!
Jogo maravilhos com as palavras!!
Mto bom visitar esse seu blog.. sempre!!
BJOS
Meu amigo! Para tudo e bate palma...
Lindo! O último parágrafo foi suspirante, parabéns!!
Um excelente final de semana...
Bjoooss!
a linha é tênue mesmo, cuidado pra não passar pro outro lado... ou será que já estamos do outro lado?
Olá,
Parabéns pelo blog. Conheça os meus blogs:
www.imperativocientifico.blogspot.com
(divulgação científica) e
www.petalasesepalas.blogspot.com
Abraço
Rafael
lindo lindo, belo texto!
és leitor da cult?
ótima revista, seus textos me lembra a revista.
adoro essa imagem do auto-retrato, vi em um dos livros de meu pai.
Certezas assustadoras, contundentes além do suportável. Magnitude: palavra perfeita visto tamanha grandeza de sentimentos. Corroboro com evidente verdade. Em determinado momento da história a vida nos impõe o seu basta esgotando toda e qualquer possibilidade de lutar contra. Perdermos as forças e involuntariamente abrimos a guarda. Assim, um dilema foi estabelecido. Lutar contra: dor infinitamente maior do que lutar a favor. Quando a luta é a favor não há dor, esta é a verdade. Saudade, muuuuita saudade das tuas letras. Com extremo carinho e respeito do mesmo Outono de sempre.
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Poético. Verdadeiro.
Adorei o texto :D
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