Estou sentado em seu colo, de olhos fechados nos olhos abertos. Estamos nus, apesar da nudez nem sempre ser permitida - sinto falta desses relatos de veracidade, beirando um romper que me come do avesso. Mordo os lábios sem saber de quem são: meus ou seus? Tanto faz. Aprecio o líquido que escorre entre as bocas, com gosto de um vermelho amargo - pesado e jeitoso ao mesmo tempo. Isso me excita, aliás. Desce pelo seu pescoço sem que você perceba o quão confuso é desperdiçar uma única gota que brota da gente. Limpo com o dedo e a beijo de volta - é minha.
É hora de subir um pouco mais nas intenções estranhas, já que seus joelhos conversam com minhas costas como se as chamassem para mais perto. Você me respira e expira de volta obscenidades que minha pele não pode aguentar - um sopro de raiva que me eleva aos extremos. Seguro os cabelos, uma deliciosa tristeza escorre de onde você me prova no meio do peito, rasgando frios por minhas pernas, sem nenhum destino entre o paraíso e o desespero louco, que me joga na parede. Não há licença. Desenho desejos em suas pálpebras para que nunca os encontre, mas peço permissão, aos sussurros, para realizá-los em nossos segundos de vida finais.
Encosto meu rosto no seu, ofegante, delineando seu maxilar como se me contasse uma safadeza de última hora. Observo as perfeições e choro. Como gosto de seus olhos que me questionam, como uma criança tristonha, o que sou para você. Encaro uma cachoeira da qual tenho bebido por tanto tempo. Como posso? E tento descobrir o barulho que isso me causa, quando me afogo sem fundo em um lago no sentido anti-horário. Seu pescoço em meus braços - as pernas envolvem a cintura - e eu tento bagunçar seu cabelo uma vez mais. É ali o agora, sem ir, nem voltar. Assino com um beijo, um cafuné perdido e com o medo de nunca mais te ver.
Douglas Ibanez
(01.02.2016 - 1h02)
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