segunda-feira, 18 de abril de 2016

E a Rosa Despedaçada


Foco! Quando a rosa se deu corda, sete pétalas brilharam em um vermelho distinto, no horizonte tão perto. Estava ali, ao alcance de meus dedos. Podia vê-la sentada, com as pontas esfoladas, sem vontade de se levantar outra vez. Havia tão pouco que o cravo saíra do palco - as luzes se foram em uma tormenta que ninguém entendia, um chacoalhar repentino de folhagens desrespeitosas, que amarelas de raiva despedaçaram um pedaço de amor.

E ali ela ficou, por mais um tempo. Um jardim passou por sua vida, sem nem notar, ao menos, seus abraços solitários aos joelhos sangrando. Mais pétalas escorriam - era o anúncio de algo - e o sol surgia como quem nada queria. Girassóis giravam em roda. Há busca por luz, quando o mundo chega ao seu fim? Não sabia dizer. Ela estava por ela, mas a plateia aplaudia seu estado de culpa e espremia arte de um fruto que nunca haveria de nascer no outono. Foco!

Me dei conta do espetáculo. Foco! E mais pétalas caíram. Ninguém a via, nem sentia seu odor, destruído por damas noturnas que riam com singular desespero. Quando a memória se tornou ideia, tão doce e singela, o iluminador começou o poente, defendendo aquele cravo, diziam as boas línguas, doente. Quem perguntou de um despedaço do outro? Era assim que as cortinas se fechavam: uma história acabada, em uma inacabada, que um e outros insistiam em não assistir.

Douglas Ibanez
(18.04.2016 - 15h31)












Nenhum comentário: