quarta-feira, 26 de julho de 2017

Vem cá, guri


Bom dia para você que já veio e me olha no meio, como um passado já ido. Lá vem o menino deitando no escuro, escrevendo um poema proibido no muro. É grafite sem tintas rosas, chorando palavras que as flores não querem. Derrete a amargura em panela tão rasa, com espinhos caindo de um telhado tão frio. O garoto atropela, ajoelha e se reza, pedindo um mundo que nunca se viu. Não era ideal, tampouco curtido, somente um barulho, de certo bagulho, que soprou e saiu. Pobre criança que hoje lhes conta um cumprimento tardio de abdicação dos céus, sem ver as migalhas que lhe caíam da boca, sem credo ou vergonha de ver o que está ali. Me abraça, meu jovem, rapaz indefeso. Pensa em ti. Veja a si mesmo. Esquece este mundo que o mundo te entrega e se joga na cela de uma vida que segue. Não pensa em mais nada, nem meros porquês. Só pousa e se agita, gira e investiga, dança um voo que não se precisa. Dê a volta da ida... dê coisa nenhuma de coiso nenhum. Vem cá, guri.

Douglas Ibanez
(25.7.2017 - 23h22)


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