Há um eu no meio do nada,
Sob um foco de luz, respiramos.
Sem teu colo como nunca houve,
Onde palavras se decolam.
O eu levanta os braços, com plumas,
Laranjas como os laranjais, longas,
Distantes como aquelas que ele colou.
Distorce o passado e repuxa o que veio.
No ápice do descobrimento, bem lá,
Há outra cor estrangulada, sem efeito,
Nem defeito: não poderia - pretérito.
Não vai se ter, perfeito mais que futuro.
Uma rosa no laranjal, desconhecida,
É bruxaria!
Feita de magia bruta, bruxa e natural,
Uma força da natureza, embebedada de algo.
Um beber do eu, tão bêbado quanto o equilibrista,
Chorando aos ratos, sem entender-se,
No paraíso que lhe veio a imagem,
Como restos de um vídeo que se foi.
Vestiu o chapéu, o príncipe dos ratos,
Com orelhas ouvintes a detalhes assíduos!
Um, dois e mais! São pratos, são limpos,
Sem toque ou destoque, somente a imensidão.
E é imenso, como é, o que batia ali dentro,
Fosse o amor ou a fome - ambos,
Quem sabe?
Pois o gato comeu-lhe o próprio sorriso. Foi isso.
Brilhou em espirais com plumas ainda pelo corpo.
E depois pediu perdão, olhando aquele ano,
Ajoelhado em si mesmo, como quem não se entende,
Dança o teu caminho, não o nosso! Não!
Mas tanto faz, no fim das contas.
Já era, já foi. O caminho era longo e pedia botas.
Armas para uma guerra, do eu contra eu,
Sem música exata. Sem arte cabível!
Correu pelo seu, chegou a algum,
Gostou do que viu e ali se sentou. O eu, sabe?
Se amarrado, como um livre elástico,
Esvaiu em um triste flácido movimento pardo.
Sentindo-se horrível, perdeu o seu rosto,
Procurou em si mesmo, nos outros, no palco.
Olhou a plateia, não tinha ninguém.
Era isso: sem o alguém.
Tons pastéis injetados nos olhos da máscara alva
Que lhe escorriam corretamente
O que as mãos tentavam esconder,
Os olhos nas palmas, assim eram.
Do alto do pé caiu-lhe uma laranja,
Cortou o elo. Sentiu o choro que veio,
Pedindo arrego pelo calor do seio,
Lhe dando de mamar com mais do tal eu.
Se dança em lambuzal,
O suor rega,
Do linóleo nasce
Aquela desgraça tão envolvente.
Chocado no chão, decide aprender a andar,
Com paus que encontrou perdido do lado de fora,
Que foram seus em outros dias,
Tão distantes quanto as plumas que o outro colou.
Anda nas pernas, anda!
Encobre suas mãos, reaprende e vai embora,
Degola o agora e decora o que é teu.
Participe de um particípio, do presente.
Deveras,
Sem teias.
Sem alturas com vista da queda,
Com o baixo desorganizado, do tipo que se organiza.
Desandou e se foi, com folhas da rosa,
Maldita, porém eterna - no peito.
Banhado pelo seu suco, doce como um gomo,
Caído como uma gota.
O longe era o eu do tal foco,
Em quatro faixas escuras, marcadas previamente,
Sentado em assentos vazios,
Desesperado em acordar sem querer de si.
Laranja como a laranja,
Nascida do amor da terra,
Paciente ao longo da vida, perdida, tão perdida, coitada,
Sem fogo para o diante adiante do eu.
Douglas Ibanez
(1h17 - 27.11.2018)
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