Chove lá fora,
gota após gota,
como dias de verão
gelado, para minha surpresa.
Há silêncio no quarto e
batemos um papo tranquilo, sabe?
Do tipo que me faz entender
o gosto do meu sabor,
outrora perdido,
outrora escrito em folhas do meu caderno,
mas sempre aqui.
O silêncio me traz café,
eu gosto.
Escuto a chuva e escrevo um poema,
sobre o distanciamento que vivi
por tanto tempo de mim mesmo.
Roço meus pés, o esquerdo no direito,
mais precisamente,
e me amo por segundos. Bebo,
como se estivesse sozinho,
sorrio, sabendo exatamente disso.
Como é bom, não é mesmo?
Como é fértil uma vida de solitudes
em pleno contexto de si mesmo.
Me deito com o silêncio,
o abraço de conchinha
e faço amor com minhas palavras,
ainda chovendo lá fora,
ainda amando a mim mesmo,
ainda em segundos.
Escrevendo versos nos lençóis
tão cheios de amassos e abraços e amores.
Entrelaço as pernas,
toques e pelos.
O silêncio suspira.
Lhe faço carinho por dentro e não o solto.
Ele cantarola, eu o acompanho,
sorrindo.
Clarões da janela e chove lá fora,
aqui dentro, por dentro e por fora,
entende o quero dizer? Não?
Tudo bem, só faz silêncio, então.
Faz igual ele, o próprio silêncio,
que eu me amo por segundos,
por palavras, por dores e pudores,
em suores do outro e do mim mesmo,
do outrora e do agora,
do aqui dentro e do lá fora.
Pelas resmas eu me junto e
vou criando uma fragilidade
na beirada do meu imaginário.
Pensamento tão portátil, tão fajuto!
É... há tempos não me sinto como nunca:
o nunca antes do escrever sozinho,
na quietude da minha noite vazia,
porém imensa como o meu ser deve ser.
Douglas Ibanez
(28.12.2019 - 04:43)
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