segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Erótico

Um homicídio é executado. Eu sinto. Na pele. Brevemente no agora, a sanidade vem sendo estrangulada. Uma língua intrusa lhe preenche a garganta. Sedução que sufoca. Engasga com o desejo. Pede uma permissão sem resposta, com carícias sobre arrepios. Ah, os arrepios. Eles têm me revelado negativas falsificadas, que sussurram algumas vontades presas antes do toque acontecer.

Os movimentos uniformes, aqueles da física quântica, ou clássica, tanto faz, continuam por uma busca sem força que os impeça de inspecionar cada detalhe. Isso é importante: ser detalhista. Virginianos. Sempre observando com os olhos ao redor do corpo. Só esperando outro para que fique cego de corpo inteiro, mente inteira!

Apocalipse em chamas. Negras, por falar nisso. Segredo oculto no silêncio daquela noite. Mas as sombras são companheiras de assassinato, principalmente quando se trata de mim que estou morrendo. Morro lentamente. Minha vontade de gritar é intensa, daquelas de desespero traiçoeiro. Um prazer único na impossibilidade do som. 

As paredes têm ouvidos... e como têm. Assim como eu tenho também. Mas não escuto, só sinto. Uma ordem por meio do vento solto, toca minha orelha. Eu sei que quer mais. Outro vento. Uma ventania. Jogo a toalha e liberto os espíritos. Uma luxúria me atinge sem pretensão de qualquer objetivo. Meus olhos piscam. Entrelaço nossas pernas. Os pés se encontram em igualdade, querendo fazer parte do calor de dentro. Eles querem convidar o esquisito para a ceia e botar o íntimo à mesa.

Sinto cheiro do suor brotando pelos instintos. Pedindo socorro por uma saborosa morte entre doses maneiradas de selvageria. O controle é necessário. Se o mundo acorda, a vida volta a fazer sentido. Não! Eu quero o controle direcionando a tensão, tomando conta da alma em uma perfuração perfeita. Sem sofrimento. O mundo não deve nos ouvir agora. Eu sei, eu sei. o perigo é risonho. Eu também sou em momentos como este, bebendo a taça de enlouquecimento mantido.

Eu quero gritar. O quadril também. Os joelhos nem se fala! Têm convidado curiosos que não existem para uma sessão privativa. Mas se existissem... o que fariam?

Estou nadando em lençóis. Sem roupas, sem água. Entre amor e colisão. Que morte contraditória! Não peça. Continue. Sem arrependimentos tardios. Quero uma súplica de adeus quando encontro o paraíso, ainda acontecendo em estocadas tensas, secretas e, como em toda noite duradoura, no controle. O serviço acaba em uma cama molhada, os corpos vazios. 

Sem cerimônia, devolvo vento para onde soprou. Lambuzo os lábios que ainda seduz. Beijo a testa em prova daquilo. Me encaixo. Um último suspiro. E morro mais um pouco, até a manhã seguinte, quando as sombras terão ido embora levando fotografias de uma insanidade privada. Provas do assassinato do lógico e do que se diz ser moral. Eu sinto... eu ainda sinto.

Douglas Ibanez
(14.01.2015 - 02h51)