segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Amor que ama amar


O Amor tem escrito cartas de amor, 
com formas de um amor perfeito.
Perfeito como o Amor que ama, 
depois de chorar pelo amor derramado. 

Isto é sobre amor sem rodeios, 
do tipo que o Amor não entende. 
Amor bagunçado sobre seus sentimentos, 
que crescem sendo amor de verdade.

É a verdade, a perfeição do Amor, 
que grita no espelho ao ver amor refletido.
É distante do amor que disseram, 
mas tão perto daquilo que o amor realmente é.

E escreve AMOR com o indicador, 
ao querer saber se amor era só uma palavra,
que nasceu de um Amor que ama
como uma escolha de amor diária e batalhada de si. 

O Amor se inspira e se escreve em poemas.
Quinta estrofe de um Amor perplexo,
sobre as dúvidas que matam de amor
o Amor que ama amar.

Douglas Ibanez
(29.02.2016 - 9h06)



segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Toques de Recolher


Estou sentado em seu colo, de olhos fechados nos olhos abertos. Estamos nus, apesar da nudez nem sempre ser permitida - sinto falta desses relatos de veracidade, beirando um romper que me come do avesso. Mordo os lábios sem saber de quem são: meus ou seus? Tanto faz. Aprecio o líquido que escorre entre as bocas, com gosto de um vermelho amargo - pesado e jeitoso ao mesmo tempo. Isso me excita, aliás. Desce pelo seu pescoço sem que você perceba o quão confuso é desperdiçar uma única gota que brota da gente. Limpo com o dedo e a beijo de volta - é minha. 

É hora de subir um pouco mais nas intenções estranhas, já que seus joelhos conversam com minhas costas como se as chamassem para mais perto. Você me respira e expira de volta obscenidades que minha pele não pode aguentar - um sopro de raiva que me eleva aos extremos. Seguro os cabelos, uma deliciosa tristeza escorre de onde você me prova no meio do peito, rasgando frios por minhas pernas, sem nenhum destino entre o paraíso e o desespero louco, que me joga na parede. Não há licença. Desenho desejos em suas pálpebras para que nunca os encontre, mas peço permissão, aos sussurros, para realizá-los em nossos segundos de vida finais.

Encosto meu rosto no seu, ofegante, delineando seu maxilar como se me contasse uma safadeza de última hora. Observo as perfeições e choro. Como gosto de seus olhos que me questionam, como uma criança tristonha, o que sou para você. Encaro uma cachoeira da qual tenho bebido por tanto tempo. Como posso? E tento descobrir o barulho que isso me causa, quando me afogo sem fundo em um lago no sentido anti-horário. Seu pescoço em meus braços - as pernas envolvem a cintura - e eu tento bagunçar seu cabelo uma vez mais. É ali o agora, sem ir, nem voltar. Assino com um beijo, um cafuné perdido e com o medo de nunca mais te ver.

Douglas Ibanez
(01.02.2016 - 1h02)




quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Horológio de Andrônico


Minha cidade se agita, enquanto danço no anfiteatro. Grécia antiga - o lar da divina arte. Um raio desafia a atmosfera, quebrando o silêncio que o dia após o dia preencheu de amarguras. Não conto a batida, pois sou dançarino do vento. Giro. Dois giros. E a eternidade se mostrou tão abstrata quanto um pedaço de história, visto de dentro de um redemoinho. 

Sou filho do mar, sobrinho do ar e amante do amor. Sou Eros sem asas, desmoronando no submundo, que me aguarda no fim de um oceano de gotas caídas de mim. São 50 ml cotidianos de alma fluída, escorrendo no flerte para debaixo do chão. Eu me viro do jeito que posso, sei disso. Seguro firme em pilastras jeitosas, ainda que desajeitadas, com inclinação ao desastre. 

"Uma tragédia grega!", diria alguém com o mínimo de bom senso. Se a tempestade me atinge, não há o que possa ser feito. Devo esperá-la partir, segurando o céu de um castigo alheio, me oferecido sem recompensas tardias. Me sinto grande, contudo pequeno. Não obstante me estico distante e roubo uma estrela que do dia salvei. 

Eu olho os muros e a plateia de espíritos. São naturezas crescentes, suficientemente vivas para me fazer dançar o despertar das flores. Os deuses me tocam - furtivos - e eu continuo sem saber por onde começar o que nunca terminei. Meus dedos brilham e eu apenas danço, danço e danço. 

Douglas Ibanez
(05.01,2016 - 2h27)


terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Monólogo do Cair


O movimento e a inquietude. Parceiros de uma época recente, que se foi em uma estrela que minha garganta pôs para fora. Há melancolia em sua cadência. Um sorriso iluminado, servindo ao mundo os seus desejos - carentes, insensatos e insanos. Em seu pesar ela despenca e observa as eras que flutuam ao seu redor. Se meu suspiro é alegre ou entristecido - não sei bem o que dizer -, pesco detalhes que somente o invisível consegue me dar. "É divertido!", diz a estrela a si mesma, ao escutar histórias modificadas pelo entusiasmo do outro. Mas são mentiras, eu sei. Eu vejo. Sua sobrancelha permanece franzida e seu brilho grita como nada qualquer. Entretanto os pedidos já foram feitos, dando as costas para o que já passou. Eu me divirto no silêncio, sabendo a verdade que me tornei.

Douglas Ibanez
(22.02.2016 - 23h48)