quarta-feira, 29 de junho de 2016

Um beco ao amanhecer


Odeio ficar sem saída, com o dever despreocupado de deixar acontecer. Existem horas e horas, mas o agora não é sobre nenhuma delas. E eu questiono meus poderes quando me encontro em tal situação de mão única: impotência seria uma palavra muito abrupta para tal? É como um joguinho patético que repasso em mente. Não posso perder o controle, senão uma, duas, três, quatro vidas eu devo perder. Sufoca, entende? 

E sem perceber já estou para baixo, com a ajuda do velho sorriso esperto, uma sobrancelha erguida ou, quem sabe, em dias mais corridos, um rosto que diz: PARE! Eu saboreio o preparo para as coisas mais complexas que posso vir a experimentar. Por isso, não me poupe de minutos questionados em minhas ligeiras passagens de compreensão. São coisas só minhas, aleatórias, mas que, ainda assim, me transportam para a força que preciso de um bem-estar próprio e comum, ao passível de erro. 

Douglas Ibanez
(11.05.2016 - 8h25)


quarta-feira, 22 de junho de 2016

Mestre Cuco


O cuco
encuca
com a cuca
encucada.

Se sou cuco
com cuca,
já encuco
o encucado.

Encucando
uma cuca
que encucou
como um cuco.

E continua encucado,
encucando,
cucando
a cuca do cuco.

Cuco-cuco,
cuco-cuco!

Douglas Ibanez
(11.05.2016 - 8h32)


quarta-feira, 15 de junho de 2016

Umbilical


Quando o medo sopra meu umbigo, eu sinto frio no coração e minha vontade é desistir daquilo que, em um breve momento, não me vejo em obrigação. Se meu choro é como vento, ele grita bem baixinho: do tipo gelado que ninguém sente, mas deixa a gente doente.

Mas, ao mesmo tempo, me excito com a ideia de um pavor que vive quieto. Algo novo, sem freio... me desligo e explico, a mim mesmo, que não sei se é esperto, reverenciar um devaneio sem a chance de retorno. O que seria mais correto? Não sei ao certo... não sei.

Douglas Ibanez
(10.05.2016 - 18h33)



quarta-feira, 8 de junho de 2016

Desgonexia


Busco uma linguagem que ainda não tem nome, em tentativas do acaso, todo dia diferente. Eu olho para o que sinto, sem me preocupar, exatamente, com uma resposta imediata. É mais uma espera aguda e desenfreada de envolvimento mútuo: sem explicações excêntricas sobre o ser ou o não ser. E isso gera filhos, netos e bisnetos, que educo, com o tempo, como educaria a mim mesmo. Ou não... quem sabe o que digo? 

A criatura me cria enquanto criador criado: é esse o tipo de idioma que me afeta às estribeiras, em um grau inesperado de relutância pela arte que exprimo. Eu tento fazer o necessário, mas é complicado quando se diz o que se diz, sem dizer aquele dito. Olha eu aqui de novo, escrevendo em muitas línguas que só eu sei entender. Mas quando vejo...  já surgiu! 

Um processo. Uma utopia sem precedentes, de um passado que me espera, pois o JÁ já vai se embora e o agora não morreu. Nunca morre. Me encontra na esquina e jamais sossega o facho. Eu gosto, na verdade. Tampouco me preocupo, pois seus restos permanecem em alguns pedidos de ajuda colaborativa. Sei bem o que me falta e todo dia é algo assim: designado, mas sem designação. 

Se figuras de linguagem falassem, as minhas estariam em praça pública, cantando para o mundo um flerte de alegria. Cada dia de um jeito, sem o certo (ou o errado). Se moldando, ao fazer o compreensível, que todos aqueles preferem não ver. Eu só digo e espero pelo o que (e como) digo de volta.

Douglas Ibanez
(10.05.2016 - 18h22)


quarta-feira, 1 de junho de 2016

Água parada


Eu converso
e explico, 
que o seleto, 
e o insípido, 
fazem parte
do nada. 
Eu só paro
e respiro, 
minha água
molhada,
que envenena
o sentido.

Parada. 

Douglas Ibanez
(10.05.2016 - 18h40)