Respiro
como se o amanhã não existisse,
pois ele de fato não estará lá
até que eu abra sua porta e
a atravesse,
com um pé diante do outro.
Nem mesmo a tarde sobrevive,
quando as manhãs são destruídas
com a amargura
que anseia todo o resto.
Este ainda para chegar,
este ainda para ir embora.
Dou um passo descalço
na paz descalça,
que se anuncia solo
como uma respiração calma
de bom dia,
com toda a graça que posso suportar.
É no silêncio que sinto
aquele amargo cheiro flutuando,
dançando em fumaças,
me desejando continuações
ensolaradas de mim mesmo,
em uma versão estranha do que ainda virá.
Não é uma previsão,
muito menos de preciso conteúdo,
mas é belo em seu sentido próprio,
como se minha intuição pudesse,
e ela pode,
ler nas entrelinhas do ar,
decifrando
e colhendo
histórias que o meu íntimo ainda
irá me mostrar de alguma forma.
Eu toco as narrativas
e meus dedos são varinhas
que deixam no ar o rastro,
os desenhos que quero seguir.
Um artista do meu tempo, do meu desejo,
fazendo espirais de um momento
só meu,
sem permissão para o alheio.
Douglas Ibanez
(24/12/2020 - 8h36)