quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

O Café

Respiro

como se o amanhã não existisse,

pois ele de fato não estará lá

até que eu abra sua porta e

a atravesse,

com um pé diante do outro.


Nem mesmo a tarde sobrevive,

quando as manhãs são destruídas

com a amargura

que anseia todo o resto.

Este ainda para chegar, 

este ainda para ir embora.


Dou um passo descalço

na paz descalça, 

que se anuncia solo

como uma respiração calma

de bom dia, 

com toda a graça que posso suportar. 


É no silêncio que sinto 

aquele amargo cheiro flutuando, 

dançando em fumaças, 

me desejando continuações 

ensolaradas de mim mesmo, 

em uma versão estranha do que ainda virá. 


Não é uma previsão, 

muito menos de preciso conteúdo, 

mas é belo em seu sentido próprio, 

como se minha intuição pudesse, 

e ela pode, 

ler nas entrelinhas do ar, 


decifrando

e colhendo 

histórias que o meu íntimo ainda 

irá me mostrar de alguma forma. 

Eu toco as narrativas 

e meus dedos são varinhas


que deixam no ar o rastro, 

os desenhos que quero seguir. 

Um artista do meu tempo, do meu desejo,

fazendo espirais de um momento

só meu, 

sem permissão para o alheio.

Douglas Ibanez 

(24/12/2020 - 8h36)