domingo, 31 de dezembro de 2017

Lago dos Cisnes no Meio da Rua


É engraçado me vestir de branco,
como toda a paz que se desfaz
no dia seguinte ao fim do mundo.
Eu me vejo no lago e brinco com os cisnes.

Me revi em 12 dias, bem contados,
começando na mentira e repassados,
treslouquentes delinquentes,
como forma de alegria para uma noite amargurada.

Viajei para onde o frio vive - com luzinhas!
Congeladas. E lá eu encontrei o que quase
me abandonou, sem pressa para o recomeço,
em um clube de espelhos.

Eu beijei algumas coisas,
como frutas mortas da estação passada,
com gosto que beira ao agridoce do cair.
O tesão de um penhasco, mas é estranho. O que é?

Me prelimino. Sei das coisas que preciso colorir,
eu quero, eu quero, eu quero!
Tem gosto de pele, de suor macio,
somos aqueles que se ajoelham e clamam (vazio?).

Se a semente brota podre, como trava-línguas,
eu sei que poderia renascer de uma vontade,
entrar na escolaridade - me formar na vida adulta!
São os meus desejos que desejo. Amadureço e amarelo.

Sem sequelas. Danço na poça que a chuva fez,
naquela calçada em que nos jogamos.
Havia vida no esquisito transformado
e transformou! Sem forma nenhuma (...) até hoje?

Pedras soltas no meu rio, brilham,
são minhas pérolas. Mas preciso da verdade,
entregar a realidade e que saiba disso mesmo!
Violento e (foda-se!) e viva o meu momento.

Eu escrevo minha história, entre o corvo,
entre a águia - entra tudo o que se faz a festa.
Tudo é o que se resta - colorido!
E eu quero distância do que presta (inclusive dessa rima).

No último dia eu me percebo tão dourado,
entendendo que o movimento de algo que foi parado
gera as consequências de um infinito que premeditei,
sem saber de qualquer amanhã.

Tem o ruim dentro do vaso e o raso naquele oceano
tão lindo. Não foi o que dizem, mas é o que é!
Não quero quedas sem ser feliz. Se está,
que seja assim! Ou assim seja.

Douglas Ibanez
(31.12.2017 - 20h19)
Feliz Ano Novo!







sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Violência


Eu geralmente escrevo coisas
sem saber o que são.
Mas quando eu grito o que eu sei,
são maiúsculas bruscas - perfeitas.

Se rasgam como um gemido torto,
com rosto coberto por um véu cinza,
nadando em um rio de águas escuras,
como diz o meu nome.

Defloro o silêncio,
o desmancho em minhas partes,
eu mordo suas traves - canibalizo,
enfio nos buracos que eu quero estar.

E eu soco
como senão houvesse paredes.
Os ouvidos escutam, como sempre,
então toma - me torna - me ouça!

Seu maldito que escreve, sem olhos.
Só há uma boca no lugar de três,
que latem nas portas do inferno,
sugando uma grave histeria.

Me boto de bruços,
eu bebo o café.
Socorro sem frutos de um sussurro só,
bebendo de águas que se derramam vazias.

Douglas Ibanez
(19.12.2017 - 1h53)


sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Uni-versos


Mesma música que eu continuo sem saber como dançar. Já criei incríveis solos de cabeça, mas há algo que eu não toco. Literal - amargurado (aos poucos tempos de uma prática difícil). 

Eu quero um colchão à meia luz. O meu corpo? Pelado e sem cuidado, rolando pelo chão enquanto dança com uma luz pequenininha - do horizonte tão distante e ainda sem tradução. O céu é sépia. 

Mas também tem aquelas cores que me gritam aos tabefes. Se espalham e dançam pelo quarto a criança ainda não crescida, adormecida - ADOLESCIDA! E cá estou me rindo torto. Colorindo sem tentar.

Eu passo pelas reverberações de tantas faces - conto dedos e durmo segurando uma bolinha ainda azul. Não entendo e nem sei se creio, mas escrevo, nesses passos, a língua a dançar. Dois complexos - meus versos.

Douglas Ibanez 
(5.12.2017 - 0h44)





quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

O avesso


Me viro do avesso, enquanto troco de lado,
Revejo paisagens, moedas sortidas.
Da carne esponjosa me aparece a vontade,
Sem gotas de vida, beirando a verdade.

Eu sei que eu posso morrer mais um pouco,
Bebendo do suco que escorre sem freio,
Pelo freio, gemendo de dor,
Quebrando suas partes, de dentro para dentro.

Desviei e reviro meus olhos tão bobos,
Me jogo no fogo dos ossos quebrados.
Eu jogo de quatro e lambo seus beiços.
Cortesia da desgraça, que me morde o pescoço.

Pelo cerne da coisa que a coisa se esconde,
Com o cansaço nas veias, que tanto pulsam, 
Desgrudam do couro, no coito, e batem de novo.
Eu sinto meus cheiros: dos céu e do grosso.

Douglas Ibanez
(5.12.2017 - 0h31)




domingo, 12 de novembro de 2017

Senhora


O céu lá fora
é cor de saco 
de pão.
Desbotado na mão 

da senhora,
que volta pra casa
com a vida no chão.
Sem hora,

com as solas em brasa,
chorando a calçada 
que lhe dá o empurrão. 
Cai a sacola,

derrama o perdão.
A vergonha na gola
que aperta a alçada 
do teu coração.

Douglas Ibanez
(10.12.2017 - 0h)



segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Seu meu


Três cheiros eu senti,
Diferentes de aromas,
Com gosto tão pedido,
Tão bonito e delicado.

Romantizados como um livro,
Digno de choro no fim bonito.
Iracema choraria, tenho dito!
Sem sentido e eu te tenho

Como algo sem ter algo.
É estranho.
Só temos nosso agora
E quando vi não tenho mais.

Mas eu te tive aquela hora,
Mais do que eu mesmo.
Comigo sem meu jeito,
Só o cheiro.

Os três cheiros,
Que latem,
Me amaciam.
E o outro,

Que até hoje eu não conheço.
Continuo destendo
Sem perder a malandragem
De quem corta a madrugada,

Me lembrando do reter.

Douglas Ibanez
(0h - 18.10.2017)

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terça-feira, 26 de setembro de 2017

Hipotenusa


Há coisas que eu não sei se são verdade, como meus pés em movimento. Eles seguem sempre a frente, sem saber que com a idade tudo fica ao meu relento, sem um pingo de fundamento sobre o que não precisaria existir.

Fiquei carente. Hoje, agora. Fazer o quê? Não boto pra fora e a garganta flameja, sem desistir do que você diz. Estou me lembrando daquele dia, seja onde esteja, foi nada que eu fiz. Só vi nos retratos, de risadas grotescas, um dedo do meio que não soube falar.

E eu me calei - me vi. Mas continuo revendo e dançando um ato de silenciar. Senti o sem ti. O que isso seria? Me sentei na geleira que cantei ao passar, com pressa ao virar ali do lado, sem saber o que encontrar. Seria dessa ou daquela para a pior das hipóteses?

Perdeu-se o anel. Perdi a vontade (momentânea). Vou atrás das mesóclises, que ganho bem mais. Ainda não sei se existe algum réu, mas me envolvo com os tais, que não trazem verdade, nem nada do inferno, do terno ou do acaso tão raso do céu. 

Douglas Ibanez
(26.9.2017 - 0h54)



quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Doce do Doce de Batata-Doce


Sério,
Santo,
como pode
e enaltece

o seu vidro,
quando o meu -
o meu vidro
- todo quebrado

de teus casos.
Amassos e
recheios
tão gostosos

e fogosos,
como doce em pira fresca.
Sem preferência
pela frente ou pelo verso.

Só se veja
ao contrário,
do contrário (...)
não te leio,

mas desejo
sua verdade,
em mordê-la bem mordida.
Como mesmo.

Dou quem sou.
Em meu seio
tem seu selo
de quem pede.

Não gostou.

Douglas Ibanez 
(1.6.2017 - 2h2)

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Cujo Drama


Se engrossa na ruela, 
minha vida.
Tão sortida de vivências 
que não ouso reclamar. 

É como mar que vai e volta, 
se pulando - se virando, 
incontando 
as benditas sortes, 

que eu não sei. 
Observo o trem partindo, 
tem mocinha ali no trilho:
- Socorro! Socorro! - me diz ela. 

Dá novela! E eu me encanto. 
Me escrevo nas vontades,
como poesia que o pó se tornou. 
Boto na cara - sou elegante. 

Danço pelado e assim continuo
nascendo. 
Morrendo do medo 
de me vestir, 

sem rir. E partir. 
Para o acaso do atraso, 
Da rima em cima da vida 
e da pena da mesma. 

Deixar-se. 
Deitar-se. 
De olhos fechados, 
querendo viver. 

Douglas Ibanez
(1.9.2017 - 1h49)
Happy Birthday, Doug!






sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Quadraturas Diagonais


Eu não consigo estar na sua alma, por isso eu engulo o que me entrega dela e mergulho num oceano sem receio de me afogar. No escuro eu vejo brilhos de estrelas despertas, praticamente certas de tão erradas que são. E eu me olho no seu centro, uma luz vermelha entrando em combustão, com gravidade inexplorada, me puxando com força sem nenhuma explicação. Sou eu ali dentro - de cada cosmo que transparece e se desmancha em águas passadas, paradas e vividas. Isso me atrai, de alguma maneira. Me explodo em fagulhas que se exalam de mim - sou uma vela festiva que torce sem dizer o que espera. Se desmancha e espalha. São anos a luz até alguém conseguir ver e enquanto caminho, meus outros se olham e brilhantemente se tornam mais um pedaço do eu. Sem partir - sem estar, mas apenas estando e deixando tocar. 

Douglas Ibanez
(14.7.2017 - 00h30)

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

No Sentido


Relógio,
me aguenta
torcer o ponteiro,
que roda a roleta.

Me joga
no trem que se esconde
em curva marota,
descendo a ladeira.

Não sei
o que não precisava,
para um cacho de uva
nascer tão nascido.

Eu jogo.
Não vejo.
Baralho e caralho,
sem duplo sentido.

Queria um carinho
de mim, sem demora.
Sorriso,
absinto

abstrato.
Do lado de fora.
Sem jeito,
buscando na vida o que me sufoca.

Ceifando o que se deita,
para ele não ver.
No chão não obedeço -
descrevo

uma gíria sem nexo.
Sou sexo
que respira,
me inspira,

a natureza tão morta
do movimento tão certo.
Volta do tempo.
O mago me escreve.

Douglas Ibanez
(26.7.2017 - meia-noite)




quarta-feira, 26 de julho de 2017

Vem cá, guri


Bom dia para você que já veio e me olha no meio, como um passado já ido. Lá vem o menino deitando no escuro, escrevendo um poema proibido no muro. É grafite sem tintas rosas, chorando palavras que as flores não querem. Derrete a amargura em panela tão rasa, com espinhos caindo de um telhado tão frio. O garoto atropela, ajoelha e se reza, pedindo um mundo que nunca se viu. Não era ideal, tampouco curtido, somente um barulho, de certo bagulho, que soprou e saiu. Pobre criança que hoje lhes conta um cumprimento tardio de abdicação dos céus, sem ver as migalhas que lhe caíam da boca, sem credo ou vergonha de ver o que está ali. Me abraça, meu jovem, rapaz indefeso. Pensa em ti. Veja a si mesmo. Esquece este mundo que o mundo te entrega e se joga na cela de uma vida que segue. Não pensa em mais nada, nem meros porquês. Só pousa e se agita, gira e investiga, dança um voo que não se precisa. Dê a volta da ida... dê coisa nenhuma de coiso nenhum. Vem cá, guri.

Douglas Ibanez
(25.7.2017 - 23h22)


sábado, 22 de julho de 2017

Pele


Odeio esse muro que me barra de frente e me deixa confuso, sem saber como ir. Eu crio uma linha que costura meu corpo, puxando com força uma articulação que estudo. De repente me vejo ligado ao concreto, sem porta ou batente, quebrando o latente que bate de frente com uma rima infame - insolente. Mas eu amo o inteiro, que me consome por dentro, sem eu poder te tocar. Na parede eu respiro e assimilo o presente, constante na mente de um prazer em estar e eu olho com gosto seu rejunte de pedra, tão doce aquecido que me transborda. E finalmente eu entendo, quando o calor me entrega o que eu queria para mim, sem mãos ou janelas, somente na espera de um olhar sem fim.

Douglas Ibanez
(14.7.2017 - 00:15)


quinta-feira, 13 de julho de 2017

Sujeito


Sei mais nada
Do frio,
Todo oco
Por dentro.
Fora o repleto,
Tão perto
Do teto.
Sem-teto.
Deserto e molhado,
Como um rio
Que se foi.
E se vai,
A nado dotado,
Em cheio,
Tão cheio,
Que cai.
Sem freio,
No meio
Do bosque sem flor
Ou sabor,
Da vida sem jeito,
Do amargo no peito
E daquilo no amor.
Tão belo
Tão feio.

Douglas Ibanez
(3.7.2017 - 20h45)


sexta-feira, 30 de junho de 2017

Eu sou gentil


Cristalino como uma memória quebrada em mil pedaços de vidro temperado. Quando imagino que já se foi - já se volta. E eu levo na cara, como em brincadeira de mão: ou vira briga, ou vira sexo. Eu viro a raiva do descontentamento. E não dá para ver um futuro quando a bola é derrubada do meu colo sem um pingo de delicadeza, escancarada nos meus olhos que permanecem cegos, além de vermelhos. Existem frestas que possibilitam sua passagem. Me sinto atacado, me sinto falhando, falhado e falhoso (se é que isso existe). Senão eu invento! E não há nada o que você possa fazer, pois eu sou eu e você é essa incrível capacidade de me fazer não saber mais o que é isso. É foda.

Douglas Ibanez
(30.06.2017 - 17h32)


quarta-feira, 21 de junho de 2017

Sabor e Obsceno


Tá aí um segredo do qual eu gostaria de compartilhar: sinto sua humanidade escorregando pelos meus dedos. Enquanto isso, massageio seu interior tão regado a escolhas malandras, um mar de opções tão perto do toque. Eu molho as pontas como quem se desmancha na lava, fervendo algumas esquisitices que eu tento tentar. 

Eu aperto e deslizo. Descubro carnes batendo tão longe do certo, que não percebo a sanidade murmurando o obsceno de meu ato. Eu apenas beijo o que o corpo reverbera em minha língua: palavrões em um contorno de pele, contorcidos, sedentos e suados. 

Te pego com a palma da minha mão (com a alma da minha fome), coloco no peito, mastigo na boca - acaricio a palavra que meus olhos querem pousar na sua natureza torta. Não há poesia morta! Só tenho lambido o que permaneço, verdadeiro e com falhas ao longo do cômodo.

Douglas Ibanez
(21.6.2017 - 23h16)


sexta-feira, 9 de junho de 2017

Escrito e Abstrato


Eu sou um recipiente de letras que se inspiram em ser o que são. Uma mente oca com significados que flutuam sem natureza específica: elas tocam as paredes do meu corpo, comunicando o que quero dizer - só que sem dizer. ABSTRATO e possivelmente sem rimas, mas ainda assim são poemas que eu crio aleatoriamente naquilo que você vai enxergar - sem pressa para ser verdade e com o dever cumprido ao entregar um mito chamado de EU.

Douglas Ibanez
(7.6.2017 - 3h10)


domingo, 7 de maio de 2017

Cappuccino


Está escuro aqui dentro e eu só consigo te ver, como uma sombra sentada sobre minhas pernas, ronronando - arranhando minhas sensibilidades - para que eu não o toque por inteiro. Não preciso, de fato.

Novamente e agora: te olho (ou seja, observo os detalhes que você não vê) no sorriso e sorrio com o cafofinho que fez para si diante de mim. Queria escrever histórias sobre sua pele, mas dedilhar letras me parece uma melodia mais racional, apesar de eloquente.

Te vejo (todos os dias) como cappuccino meio-amargo: indecifrável por ser meu pedido diário, mas com todo o sentido quando me aquece sem exageros. Ronrona de novo, me abraça por engano (me deixo enganar) e eu te bebo.

Quando encosto meu pé no seu, te toco na alma - sensível como um tapa na cara, que arde apaixonadamente ao contrário. Quente e perplexo como um pulsar de calor que se desfaz. É espuma marrom clara (imediata) se dissolvendo em abstrações que continuo a amar, enquanto tomo um gole a mais.

Te enxergo e me solto no oceano escuro (espero seus olhos me encontrarem quando a lua estiver lá no alto) balançando meus pés como menino crescido, sem medo de viver o que tiver que ser.

Douglas Ibanez 
(8.4.2017 - 3h7)




quarta-feira, 3 de maio de 2017

Só indo


Precisamos nos perder
Sem olhar para trás,
Somente encontrar no amanhã
Um passarinho para usarmos o VOAR.

Você dançaria comigo esta noite?
Até o nascer do sol, se for possível.
Meus braços em seu pescoço
E os pedidos perdidos nas estrelas.

Vamos esperar a chuva chegar,
Nos pegar pelos dedos e nos beijar.
Somos crianças brincando
Em um jardim de infância sem fim.

Sorria e siga ali (para mim).
Lhe fecho os olhos aos sussurros,
Sopro promessas de dias eternos.
Pegue minha mão e venha!

Douglas Ibanez 
(8.4.2017 - 3h23)



sábado, 8 de abril de 2017

Desmemorio


Eu nunca beijei as estrelas
e isso me parece tão errado,
em uma noite que cheira às maneiras
que você e eu devíamos ter ficado.

Nós nunca tocamos a chuva
e isso me lembra que não poderemos ir
ao lugar em que não vejo a culpa
me julgando de volta por me molhar e sorrir.

Queria assistir o mundo dos altos
com todos os sonhos que desenhei,
pegando sua mão - os dados aos laços
e a pele aquecendo o que sussurrei.

Douglas Ibanez 
(13.3.2017 - 00h01)



sábado, 1 de abril de 2017

Autópsia


Rasguei o pano para ver o que tinha dentro. Encontrei uma caixinha que me cabia inteiramente, lento, mas com espaço para o peito, ainda que no conforto do plenamente estreito.

Me deitei com jeitinho, como quem explora terras, me aquecendo a cada parte e bagunçando o que me levas - o todo resto (eu não presto). Só me leva, sem conservas. 

Deixa eu bagunçar você? Já dizia aquela voz, com meus dedos no cabelo, calculando o absorver de cada parte que eu gostava. Quero ver - com mais porquês de nossos nós (brancos) em volta de sua nuca.

Respiro o que me inspiro - e o pano continua ali deitado, relativo e amargurado (mas aberto ao meu suspiro), como doce de marrom glacê. Eu me viro assim de lado, sem vontade de saber. 

Tudo não está insípido, como você vê, mas eu busco um resultado (sem demonstrar o meu agrado) de um acesso alternativo, extremamente restrito, de uma forma a me encaixar e esquentar, enquanto piro.

Douglas Ibanez
(17.3.2017 - 1h6)



sexta-feira, 24 de março de 2017

Sol e Cera


Olhos fechados quando a vela pegou fogo - e assim ela brilhou como qualquer estrela na noite desconhecida. Deu se à luz! E o fogo encontrou em seu peito ceroso um pedaço de paz que não havia experimentado até então - apesar de escorregadio, era ali que vivia sua vontade de estar presente.

Havia calor em suas asas, que abraçaram o ar em volta para aquecer o que se perdia. Pouco a pouco a cera derretia por voar tão perto do sol, abrigando seus desejos de circular horizontes que, talvez, não quisessem companhia - mas estava tão quentinho ali dentro. Porque teria que ser assim? Porquê?

De mente fechada os segundos se cortaram - o fogo se apagou sozinho quando a vela se tornou vazia. Não havia nada presente! O escuro tomou conta da história que se contava sozinha: sem um, o outro era apenas queda livre, mas juntos se desfaziam em um paralelo distante, apesar de conjunto. Sem predileção de momentos: apenas beijos que se queimaram juntos - para sempre.


Douglas Ibanez
(4.3.2017 - 1h33)

sexta-feira, 17 de março de 2017

Lábios Rachados


Está tudo tão perto do chão, caindo em pequenos flocos dançantes pelo ar congelante aqui do lado de fora. E ao mesmo tempo que eu procuro palavras para descrever o que é voar de verdade, sopro apenas fumaça no que continua quieto. 

Eu não entendo muito bem - tento segurar cada letra com dedos que transpassam seu haver de cordas cheias de calor. Pulsante. O mornaço me queima e meus lábios já estão rachados há um tempo, com o vento que acaricia meu rosto - uma metade azul e a outra sangrando, sem saber porquê, como ou quando o tempo virou. 

Mas a cidade é grande e eu estou acostumado a trocar de roupas a cada nova estação no pôr - nascer - do sol. Caso eu não esteja... estarei mesmo assim.

Douglas Ibanez
(4.3.2017 - 1h07)


sexta-feira, 10 de março de 2017

Valentine


Um milhão de margaridas para ver você sorrir, em um segundo de espera quando o ar vem do avesso - um recomeço - sem saber onde vai dar. 

Então eu digo na esquina, o que não vem para depois. Vejo olhos me olhando, me sorrindo como pontos que aprendi a costurar - todos cegos, que ultraje! 

Sem contar a maresia, me ajoelho e me entrego - de relance, bem pertinho. Como disse no poema: cinco tempos sem mais nada. Só discorro as palavras - e me vivo sem deixar. 

Douglas Ibanez
(16.02.2017 - 1h17)



sábado, 4 de março de 2017

(Meus) Velhos Jargões


Tem uma gota caindo na minha cabeça.
Um universo que se esparra-lhama no chão
sob o pensamento que sede à ternura
de uma fração gelada, que ainda canta.

Goteja sobre gargarejos que se repetem, 
com formatos pacíficos de uma janela aberta.
O vento recolhe o que se perdeu por ali, 
enquanto há uma história pairando em minha memória. 

Douglas Ibanez
(23h18 - 27.02.2017)



quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Canalizado


Aquela necessidade de ser dito
Por um duto sem predileção,
Com um desfecho sem fecho,
Descendo sem freio,
Regado à inspiração.

Douglas Ibanez
(29.11.2016 - 9h47)



quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Tão ingrato


Só, apenas. Eu me rasuro em pedaços velhos de papel picado, que sopram sem ajuda. Um tanto ingrata essa sensação desnascida, depois de terra sobre terra e um segmento de paz. Me pego sem corpo, mexendo em memórias e combatendo o batente que é bater de frente com o desapego de um parágrafo, fadado à decepção. Escuto, me irrito - há a vontade de chorar aquilo, que de escondido se tornou próprio. Uma vez mais, apenas.

Douglas Ibanez
(30.10.2016 - 0h14)




quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Me circula


Queria alguém para me ver dormir. Há um quarto de luz na sala do lado ao quarto meu que hábito - sem fonéticas, por favor. Obviedades me deixam e eu as permito que vão, sem necessidades.

Eu quero teu mar - a malemolência marota, a madrugada medida e a maledicência molhada de um amar desjulgado, melecado de reajustes, desajustado - melancólico, enquanto mero mimo desmerecido e maleável. 

Se cheira como eu te sinto: macio da cor do anil - do seio que a chuva brota e cai sobre o quarto que continua apagado. Se há nele a vontade, me perdoe, é como toco a mim mesmo querendo você. 

Douglas Ibanez
(28.01.2017 - 3h54)


segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Lua Nova


Olhei para o lado e não gostei do que vi: uma esfera suja, de coração apático, lunático, e que não conseguia sacar suas ambíguas vértices - vertentes que seguiam um paradoxo estranho. Não havia motivo para sua existência e, enquanto isso, sua lama descia de maneira sistêmica, me encostando como uma criatura sem forma, ainda que geométrica, copiando os pés em pontas, que outra pessoa havia sido. Eu ainda não gostava daquilo. Era como um assunto inacabado - um tabu interpretado pela maioria, mas que ninguém conseguia ver, apesar do cheiro forte e do suor que me afogou. Estava ali, naquela hora e eu ainda não gosto.

Douglas Ibanez
(8.11.2016 - 1h2)


segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Reaparece


Me canso de olhar ao redor, enquanto as folhas se desmancham sob o foco de luz. É muito estranho ter que aplaudir de perto um ruído que não permite sua existência - só que a vejo ali, sentada, com coroas de flores nas mãos. São muitos detalhes que vazaram pelas paredes, por brechas infiltradas de massa que subiu do chão, fazendo escultura com o que há de pior da gente. Eu vejo acontecimentos deitados - isolados de uma opção de experiência mútua, mas que se exprime, sem medo, em expressões renegadas pela menina dos olhos comuns - anil ou negrados, sem regras, mas sob o vislumbre terroso eu captei hoje cedo - sem medo, cansado.

Douglas Ibanez
(10.12.2016 - 1h17)


sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

O Bom Filho


Revogado, jamais. Somente na pausa da fluidez, que continua contínua. Eu não aperto o stop, somente solidifico as estruturas, inventando outros diálogos, conversações paralelas, bastardas, mas restritamente livres de qualquer amargor. São neuras vividas, discutidas e executadas. Mas volta e meia eu retorno, carregando consumos, proibições desmontadas e novos rascunhos do que está por vir. Inspirado. Continuado, sempre.

Douglas Ibanez
(29.11.2016 - 9h36)


domingo, 1 de janeiro de 2017

E assim me vou... me fui!


Vira e mexe eu viro palavra,
Cantada com amor
Por passarinhos cor de mar,
Que brincam na estrada que o céu carrega, 
Sem margem de erro para eu voltar. 

Douglas Ibanez
(29.11.2016 - 9h26)

Feliz Ano Novo!