segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Anoitecer das Onze


É como se cortinas fossem fechadas
avisando que já basta por hoje
de tanta luz vazando da vida
querendo carinho de boas-vindas.

Se põe a dormir por cerca de cinco,
contanto os ponteiros para acordar,
passando a borracha na noite tingida,
fingida, brincando tão séria.

É uma tintura finita,
apesar de um denso para sempre existir,
como camada de névoa escura,
crua e com desenhos de ser bonita.

Porque há sol à meia-noite
desaparecendo além das nuvens pretas,
naturais como se grita a vida,
que morre na foice e vive.

O gélido puro nos pulmões avessos,
tão cheios de carros e gritaria,
se apaga de novo, necessário.
Desmonta na água em berço seu.

Tem lua cantando o amor,
desvendo o que viu.
Majestosa e insignificante.
Finita, como o sempre já dito.

Apago as luzes e vejo o mar.
Desemboco em sonhos, listas e listras.
Sou grato pelos opostos, tão nossos,
que os perco em aquarelas.

Humano perto de uma natureza presente,
sentado, descrente.
Eu abro a torneira, o mar desce.
Eu fecho os olhos, o mar vira.

Me gira e me pega pensando,
enquanto bordo estrelas em meu pescoço,
junto a palavras escritas que rodam
e brotam num entrar de segundo.

Douglas Ibanez
(22.12.2018 - 4h08 - Ushuaia)
FELIZ ANO NOVO!


terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Foda


Escuro doente socando na garganta,
me narra segredos,
com sussurros mordidos,
ainda mordendo o meu espírito.

Um furo na carne sortido, qualquer,
e o gozo me jorra, me constrói
em nuances de camadas gemidas,
tremidas, dormentes perturbadas.

Meu colo te chama, cavalga.
Eu toco minha coxa, que venha!
Eu arranco sua língua,
com ela, demônios e profecias.

Te violentam em meu nome,
encontrando paradeiros em cavidades.
Revira-te os olhos, me cospe na cara,
que te bebo em respeito silencioso.

De tão entregue, morto,
de quatro, vivo.
Repleto e complexo, de longe ao completo,
mas ainda assim torto, pejorativo.

Douglas Ibanez
(01.07.2018 - 23h)


terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Colapso


Explode sem freio
No meio da rua,
Tão crua (!) a carência
Que pode e fode.

Latência que treme,
Que quer,
Que cheira a desgraça,
Me xinga, me abraça.

Me pega no colo, sem jeito.
Eu quero e desquero,
Meto a colher e ela se vinga,
Na beira do nada.

Desenfreada é a queda,
Uma visão de sossego,
Que azeda o aconchego, tão feio,
De um pão que devoro todos os dias.

Douglas Ibanez 
(23.06.2018 - 1h23)


segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Próprio entre os próprios


Coloquei o casaco, me amarro, 
Me mareio em maresia, espiritual.
Vejo gente morta em vida viva, 
Conceitual, me perco. 

Tiro minhas roupas sem elas,
Os joelhos doem, se contorcem, 
E esticam imagens do excêntrico
Romantismo de uma blusa - perfeita.

Era feita diluz, com um ão bem grande, 
No final do começo.
Choro no preço, de um sacrifício 
Que facilmente me seduz. 

Era o primeiro, seguido de outro, 
Enquanto os outros faziam desordem
Em uma coragem que eu parecia ter. 
Baguncei.

Me senti livre ao ver na janela,
Um chapéu de menino, 
Pequenino de sorriso bonito, 
Tão cheio de nãos - de sins. 

Pegue de mim, me beija na ida, 
Na volta e na vinda, 
Proclama-me a vida
E eu acredito. 

Hoje eu evito 
E quero querer, sem nada a perder, 
Vendo faces, comprando promessas, 
Observando sopros em minhas ideias. 

Jogando xadrez em roupas laranjas, 
Dançando palavras, ousadas, 
Querendo a vez de uma vez, 
Com medo, sem freio, do que você fez. 


Douglas Ibanez
(03h07 - 25.05.2018)


sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Sua maior criação


Peguei meu copo,
Bebi veneno.
Desceu pelas coxas,
Morri sem medo,
Escorrendo enquanto descia,
Descendo por minha virilha,
Cheirando à naftalina.

Me viu em um dia
Apagando (...)
Me apagou.
Não merece o que planta,
Minhas plantas - o meu jardim.
Venenoso,
Ninguém pode comigo.

Sou seu filho, de nascença,
Sem crença, ou desavença,
Pois não posso,
Não digo, só choro - palavras.
Não há verde, verrrde, só VEDE.
Meu sentido não se faz,
Você entende?

Continua me apagando.
Só me sinto.
Sou aquela história, aquela,
Aquela mesma,
Que eu engulo
Regurgito.
De repente: nunca aconteceu.

Nunca.
Eu sei, eu me criei.
E eu sei que tu me quer,
Como quem não pede nada,
Sem levar em conta
Toda uma muralha
Que ajudou a construir.

Me emperfeito, com medo
De algo, do errado.
Mas eu erro, não posso?
Envenenado, morro.
Sem teu abraço, corro.
Com seu dedo, choro.
Sorrio, apesar.

Eu bebo meu sangue,
Seu sangue, no fim das contas.
God (...) please.
Se eu revirar os olhos,
Não é de prazer.
Só oro e não entendo,
Desprendo ao dizer.

Tomo um banho, dois,
Mais sete - perfeito (!),
Como me espera.
Quebrado, porém apagado:
Respira e engole o choro,
Moleque!
Fala grosso!

Dou voltas,
Mordo meu rabo,
Engulo meu corpo e cuspo,
Me cuspo - com nojo de mim.
Sou venenoso, me pico, sem pica,
Com picas e peço socorro.
Ninguém (...) poeira que alguém levou.

Douglas Ibanez 
(18.05.2018 - 1h46)


sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Desportas


Eu só queria meu lugar
Onde não há ninguém.
Só por um instante,
Fechado nas portas, amarrado.

É como uma torre sem porta
De entrada, saída ou emergência,
Enquanto as emergências continuam
A passos largos, me dizendo "corra"!

E ao mesmo tempo
Que me sinto ingrato, eu me sinto
No direito de me dizer estar assim,
Como num casulo sem janelas.

Eu olho a porta aberta e me irrito,
Tão quanto as roupas tão perfeitas.
Estou vendo um eu que não quero,
Em um jogo de cartas estranho.

Blefando sem querer, mas preciso,
Pois não há sentido na ira,
Tampouco na birra de um sucessor,
Que cruza seus braços. Trancado.

Douglas Ibanez
(23.06.2018 - 1h04)


segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Narcisos


Me quebra no meio,
Me lembra o que foi,
Me pega nos braços,
Me beija em abraços,
Me pede carinho,
Me acolhe no ninho.
Me choro só eu.
Me volto querendo,
Me grito ao sofrer.
Me olho perdido,
Me gira sorrindo,
Me gosto assim.
Me desgosto desse jeito.
Me detesto por isso,
Me entrego submisso,
Me engulo só pedindo.
Me esfrego,
Me espremo,
Me espero,
Me escapo,
Me explodo.
Me transcende e me explica!
Me possua, me tenha só seu,
Me come.
Me peça,
Me descabeça,
Me confunda e me confundiu.
Me destrambelha sem o teu viu.
Me apaixono,
Me perco,
Me apago, me apaguei.
Me morro,
Me morto,
Me morrendo me morri.

Douglas Ibanez
(23.06.2018 - 1h31)


quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Conduta & Compostura


Madrugada, minha cara, tão escura e não barata, me confira, me confirma e me exclua, sem agora, nem nunca no depois sem necessidade de algo tão perto que é você. Pontuei e acho estranho. Só dei vírgulas e os ponto-e-vírgulas foram doloridos demais para alguém como eu que nem sei o que estou pensando direito, só deixando fluir como bateria de coração de mão de gente retardada - com o maior perdão da palavra possível, sendo isso possível. Conversa comigo, sua doida aí parada, mas tão rápida que dura pouco mais do que doze horas e eu te perco, escorrendo pelo meio das minhas pernas como cena pornoada de tão deselegante que possa ser: sua presença me mata de gentilezas e eu espero que você permaneça até eu me recompor. Ordem! E anda direito - um bofete na minha cara!

Douglas Ibanez
(02.04.2018 - 1h14)




quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Saturno


Do meu quintal olhei aos céus,
com anéis girando seco,
como o gelo ao meu redor.

Havia regras em sua voz,
tão grossa quanto sua paz,
que ali jazia tão tarde.

Fazia um círculo em datas,
me cobrava pelo o que me contou
e eu pelo o que nunca tive.

Me contive e o amarrei nos pulsos,
onde batia o meu coração
tão lento, parando.

Onde a vida corria
por veias redondas, grossas.
Grossas como somos grossos.

Meu saturno girando, me dizendo
que metade me abriga
e outra metade se cansa.

Que do meio me escreve,
no meio me encanta.
Sem dança, nas pernas uma trança.

No espaço o nosso espaço.
E me deve um novo laço, um amasso,
com gosto de abraço.

Douglas Ibanez
(15.08.2018 - 2h20)


sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Estaca Zero


Voltei uma página para ver onde a inspiração me levava e descobri (olha só!) que minha letra é itálica. Torta como uma linha tombada depois de não passar pelo buraco da agulha, porém tão bela que não quis consertar. Não precisava de conserto, mas sim de concessão para escrever e escrever e continuar escrevendo mais, até eu me ver.

Douglas Ibanez
(21.03.2018 - 20h53)


quinta-feira, 19 de julho de 2018

O Desaparecer: Buraco Negro


Nasceu branco, como um brilho na janela às onze da manhã. Explodiu, como milhares de fagulhas em meu peito, quando a cor virou catarata e me deixou sem vista para o que tocava tão sutilmente - eram cordas de um coração sem partituras para o precipício. Assim como hoje, pulando alguns dias de um calendário maluco que eu inventei, como se fosse uma carta escrita por um morador de rua, que vende poesias de porta em porta em busca de alimento para sua alma, escorrendo pelos seus dedos como letras sem contexto e moedas sem valor.

O coloquei no meio de um livro - o meu livro. Escolhi a página aos dedos, após lambê-los para folhear com uma cautelosa pressa que tive em me desrespeitar por opção. Revejo minha opinião: falha. Me amo? Me revejo, na verdade - me detalho, retalho e cantarolo pianices que eu achei que entendia tão bem. Eram folhas novas e ontem, só ontem, amareladas, como uma promessa envenenada que o relógio escreveu, com seu poema em ponteiros surdos. Duros, devaneios.

Está lido como (...) enquanto lido sem jeito de me fazer me entender o necessário, para o ser descer novamente, enquanto desaparece de maneira tão simplória. Eu falo francês: eu gosto disso. Meu rosto fica vermelho no vento gelado, me corta e me sangra e, quase que imperceptivelmente, me implode descabível de qualquer noção do que é o cima ou o baixo. Relevo-me em alto, bebo um gole, me sugo pela passagem e sumo de vista como um astro, caindo sem cair de uma altura, sem forças para ser medida.

Douglas Ibanez
(16.04.2018 - 01h29)


sexta-feira, 13 de julho de 2018

O Descer: Fraqueza Titânica


Carrego o céu enrolado no pescoço, como sentença de um julgamento que começou culpado e terminou perdido, sem ao menos saber para que lado virar. Só que o nó aperta depois de estar frouxo - vai, volta. Rodopia! Sem saber encaixar o veludo escuro que cobre meus ombros.

Eu entendo de tanta coisa, ao mesmo tempo que não bebo aquilo que ensino - faça o que faço e acabará como eu; tomei sequelas com rodelas de açúcar, em uma dose de quedas que não deu para contar. E eu vou cair, mesmo tão fraco. E eu vou ter dúvidas, apesar de já as ter.

O céu muda de cor como numa borboleta amarrada no pomo, eu brinco com ele e me engasgo como que nem vem, nem bem-vindo. São estrelas mortas, como uma lua que tenta manter o seu brilho, noite sim, noite menos e noite nada. Escuridão é o momento e o que é novo permanece na nova, sem prova ou limite do cair.

Douglas Ibanez
(09.04.2018 - 03h33)



quinta-feira, 5 de julho de 2018

O Ser: Gravata Noturna


Eu abro a janela só um pouquinho, me endireito no parapeito e olho para a noite. Passava das duas da manhã, na verdade era quase três, poucos minutos para acabá-los, ou começá-los, tanto faz a ordem, para ser honesto. Eu não fazia ideia do porquê de estar acordado a essa hora. Insônia, obviamente. Suspiro o inspiro do ar a minha volta, um vento gelado bate no meu rosto com classe. Eu gosto.

Sinto como se a noite fosse um tecido colossal, feito para vestes de seda de quando um deus, ou alguma criatura do tipo, celebra uma era de anos docentes sem a decência de costurar a barra. Mas costuras são sempre bem-vindas. EU me vestiria se fosse algo do gênero: uma gravata borboleta tingida do mais verdadeiro tom da noite, estrelado - contando estrelas. Sorrio e observo lá longe, sem compromisso com prazos ou limites. Só olho.

O céu está limpo, apesar de frio. Mas grato estou mesmo assim, consigo dormir de olho aberto e com visão POTENTE, PRESENTE, mas sem nenhum tipo de ONI - sinto paz com este acordo e é simplesmente isso. Enrolo minha franja numa mecha malcriada, ergo meus dedos como varinhas e dedilhos feitiços, cantigas (...), danças. Promessas? Só rio e deixo seguir, desaguar - e está tudo bem.

Douglas Ibanez
(27.03.2018 - 03h12)


sábado, 30 de junho de 2018

O que é um rosto sem ninguém?


Tiro-me e (...)
Máscaras caem,
Há nada,
Nem ninguém.

Só vem,
(...) porque não venho.
Desdenho a imagem,
Mesmo a sendo - tendo.

Vou lendo e sorrio,
Fundamental pressa,
Depressa!
Con (...) tigo.

Despido de tudo
E a certeza desnuda,
Calada - imunda,
Tornada de frente, dispersa.

Douglas Ibanez 
(25.05.2018 - 18h)




segunda-feira, 25 de junho de 2018

Pés


Nudez é cada parte da pele,
enquanto me toco com sua memória,
uma obra de arte para cada sentido
que te faço fazer.

Lábios notórios
descobrindo o caminho de um doce momento,
se masturbando com o gosto
do seu odor melancólico, quase sexualmente tristonho.

Esculturas de corpos que morreram
tentando, são bundas tão lindas
sem chegar ao que é seu. Me culpo
por isso. Eu desejo querendo mais.

Centímetros sem causa nenhuma e eu
desço por sua coluna,
só quero moldar - esculpir o meu plano,
sem roupas, sem eu.

Me vem a degola, senta em mim,
desajusta meu treco que descontrola o perfil
de uma cara vazia de um cara só teu.
Transpasso e desejo de novo.

Paredes comigo contigo e sentigo - descendo e subindo,
do ego ao umbigo, com beijo na alma e barba na nuca,
pedindo arrego no meio do peito, com boca
na culpa, do sorriso e do aconchego.

Douglas Ibanez
(16.04.2018 - 01h43)



quarta-feira, 13 de junho de 2018

Trovadorismo do Amigo


Eu
morreu
para eu.

Sem teu
no meu,
doce Morfeu.

Com seu
só seu
eu.

Douglas Ibanez
(21.03.2018 - 20h45)


sábado, 2 de junho de 2018

Bris-z-a


Você já parou naquela fração de segundos em que que o tempo não corre e tudo parece mais simples? Pois é, nem eu. Mentira! Hoje eu senti isso, como um extremo de N loucuras que nadam com força no sentido correto, num esforço tão denso, mas tão tenso, sem descanso ou trégua de paz recorrente. Não há bandeira branca e a pomba me trouxe algumas doenças - além de carrapatos. Mas eu fecho meus sentidos como se vestisse uma armadura dourada, apesar de nu, e sinto a gota d'água escorrendo pelo meu pequeno e irônico nariz, lambendo meu lábio com gosto de ferro em brasa. Um sopro no meu rosto joga meu cabelo para baixo, cima e todos os lados e eu respiro a natureza, tanto minha quanto a materna, renegada e jogada aos cantos. Pobrezinhas. Se você não sabe o que é, tudo bem, eu sei, mesmo com dúvidas e escrevo como outra força que oro que esteja comigo nas horas mais complexas, aquelas quando nem o que é natural dá as caras quando a gente precisa. Mas você sabe o que eu quero dizer, não? Não.

Douglas Ibanez
(02.04.2018 - 02h04)
Não é mais mentira!


segunda-feira, 23 de abril de 2018

Crise de Identidade: Eu hein!


Um estranho numa terra estranha, tão estranha quanto o estranho lugar de onde o estranho veio. Era estranho o quão estranho o estranho se sentia entranho e como essa estranheza era estranha aos estranhos olhos estranhos, dos estranhos do estranho lado de fora. Estranharam uns aos outros como estranhos, que estranhavam os estranhos tão alheios que a estranheza não conseguia adotar, estranhamente. Era estranho, definitivamente. Eu hein.

Douglas Ibanez
(28.02.2018 - 1h43)

segunda-feira, 16 de abril de 2018

God help me!


Me perdi da minha mãe. Soltei sua mão em meio a multidão. Dezesseis anos eu tinha e meu velho floresceu com um cara barbudo que não escuta sem antes escutar vozes no lugar de vezes e, às vezes, isso acontece bem quando os anjos passam e não dizem amém.

O que se perdeu se foi como água rodando no ralo do banheiro, ao contrário, distorcida e retorcendo cada coisa que eu não ouvia ou dizia - ou queria dizer. Eram ecos, hoje gritos sem se repetirem, e os dezesseis anos fizeram aniversário numa festa sem eu. Porquê?

Douglas Ibanez
(21.03.2018 - 20h40)



segunda-feira, 9 de abril de 2018

Dadear: Dança da Lua


Pisei na terra. Os grãos afofaram o dia a dia
de meus pés cansados. Sobre a cabeça, a luz branca
onde o coronário transluz como alma sendo um vapor.
Eu olhei para cima.

Dancei sob a lua uma coreografia que era,
mas tão era que era apenas minha. Nem sua foi!
Entretanto, eu lhe dei cada oitava em passos largos,
sedentos por aquela fumaça tão bem-almada,

onde a terra ainda (...)
conseguia enxergar. Fechei os olhos, girei, rodei,
descobri o que era e larguei de mão - se soltou ao mundo
e voltou para mim. Me ajoelho, a terra brilhando.


Douglas Ibanez
(06.03.2018 - 14h43)


segunda-feira, 2 de abril de 2018

Crise de Identidade: Carne Maluca (Louca)


Era um pontinho laranja
naquele tudo tão branco.

"Como podia ser tão branco
sem haver nada ali dentro?",
Se perguntava alguma voz
que não se achava muito lunática.

O ponto disse que sabia,
mesmo sem saber.

"Se você fala comigo,
quer dizer que tudo está com nada dentro?",
Tão danada, essa caralha!
"Cala a boca, sua louca, maluca, doidona!"

Retorcida, eu diria.
O contrário da palavra, intocada.

Exagerou, como quer nada,
mas olha só, ele corria pelo espaço!
"Eita pontito abobalhado,
corre, corre e volta e meia cai pro lado".

Senhor pontoso só olhava,
onde o chão ele descia.

"Como pode, vossa alteza,
ser tão próximo do alvo?",
devolve a coragem, essa droga de coisinha,
tão marrenta, ascendente!

No caminho da rodada, laranjeiras
marcam a hora de crescer: misturar-se.

"Simbora minha amiga, chega dessa,
me embora e não degola, olha a vida",
olhava agora, sem querer olhar pra fora
era aquele o caminho.

O pontuado pontuou, sem pressa.
Meu... olha a arte, minha gente! Olha a arte!

Douglas Ibanez
(28.02.2018 - 1h30)



quinta-feira, 22 de março de 2018

Dadear: Historicamente


Uma gota de neve, que se jogou,
Encontrou a raposa em seu focinho.
Então olhou como quem não queria,
Mas queria que não queria querer.

"Que droga!" - Disse a nevinha.
"Que droga!" - Disse a raposa.
"Que assim seja!" - Disse alguém louco.
E cá estamos, amando a loucura.

Douglas Ibanez
(28.02.2018 - 1h39)




quinta-feira, 15 de março de 2018

Crise de Identidade: Interlocução


Quero ouvir uma música, quando não quiser não vou avisar. Só vou parar e é isso, assim, simples como o vento, o tempo ou qualquer outra rima mequetrefe que eu possa vir a querer usar. Mais óbvio que isso, só falando sobre rimas em um texto letrado, sem paciência para mim mesmo: abestalhado. Pobre criatura essa segunda, de segunda a segunda sem saber entre se é segunda, segundas ou nenhuma mesmo. Deplorável, eu diria. 

Sorrio e reviro os olhos - sem sexualidades, beleza? Pelo menos não agora. Aquilo ali tem se esgueirado como humor em começo semanal, tenho sono mas abro os olhos, não perco de jeito nenhum, mas detesto, sem "odeios" ou rodeios, essa gravidade alimentícia. Gosto muito. Gosto tanto que não perco nenhum pedacinho. Lambo os beiços! Mas dou é nada... só me cubro e resmungo. Sai daqui, volta lá! Pega eu e vai-te embora, vou-me agora, sem demora... olha a rima maldita voltando. Desgraça!

Douglas Ibanez
(28.02.2018 - 1h09)


segunda-feira, 5 de março de 2018

Crise de Identidade: Gomos


Balanço a cabeça, eu sou um borrão. Mil faces abrem a boca, gemem com gosto - gengibre velho lambendo minha garganta, relativamente. São meus pescoços se enroscando, ardidos como um tilintar, que de tanto canto nos cantos sumiu numa poeira sem graça - quanta ironia. Pegou fogo, repentino, um tesão entre um beijo do eu e do eu, rasgando-lhe as pernas, com marcas e tapas.

Derrubo seus pés, lambo seus dedos, sabendo o que iria encontrar, mas o uivo se esvai com uma voz gutural. Me sinto velho com dores na consciência por continuar escalando a mim mesmo - até sinto o suco de laranja me tocando pelos pés, como cócegas, sem graça, que me derrubam morro abaixo em uma poça suculenta de cabeças totalmente minhas. Balanço meu corpinho, não há nada. 

Douglas Ibanez
(26.02.2018 - 16h04)


quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Não me dirijo


Parei e olhei o meu vidro. Vi a calçada correr como quem não quer nada, mas em busca de sonhos que nem ela sabia onde iriam desaguar. Se chegou, eu faço a mínima ideia. Da última vez, ela virara uma esquina sem graça, abrupta, brusca e ao completo longe do meu ponto de vista. 

Opiniões? Sei lá, sei não. Elas não costumam prestar de qualquer forma. Observei por meio do vidro da frente e revi o mundo parando em uma gota de chuva. Escorria por um caminho torto, claro. Quando dei por mim: estourou e quem foi que ouviu as milhões de vozes fazendo uma prece? Sua.

Bons tempos virão, me disse o passado disfarçado de música. Eu ouvi calado, pensativo, pelo rádio. Um suspiro me estendeu a mão como um pretérito, tão perpétuo que doía. Para sempre é tanto tempo que eu o queria em repúdio, correndo sem hora marcada, somente gritando meu profano e sagrado. Desgraçado e com remelas de uma noite recém pensada. Criei.

Douglas Ibanez
(15.02.2018 - 22h44)


quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Craquarelando


Meus ouvidos racham.
Não gosto do que vejo.
Dou tapas na cara,
Naquilo que tenho.

Sem flores dessa minha vez.
Com medo do mundo.
Minha aquarelada
Insensatez - destes e daqueles.

Douglas Ibanez
(27.01.2018 - 3h)






segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Foi essa a educação que sua mãe lhe deu?


O que estou repetindo,
depois de anos de destruição,
abrupta como gastrite,
DESVÉRVOLA como um neologismo?

Eu invento essa palavra 
como quem dá nome aos bois:
Sandro, Jonas e Dominique,
e choro ao me lembrar.

Não gosto do que vi,
ou do que deveria escutar.
Por trás de favores do por favor,
eu fecho uma porta e jorro não-cordial.

Me deito no brejo e tomo da água.
Não gosto da cara que o sapo tem feito,
deseducado
desde sei lá. Reviro os olhos e tento de novo.

Douglas Ibanez
(27.01.2018 - 2h55)