quarta-feira, 26 de julho de 2017

Vem cá, guri


Bom dia para você que já veio e me olha no meio, como um passado já ido. Lá vem o menino deitando no escuro, escrevendo um poema proibido no muro. É grafite sem tintas rosas, chorando palavras que as flores não querem. Derrete a amargura em panela tão rasa, com espinhos caindo de um telhado tão frio. O garoto atropela, ajoelha e se reza, pedindo um mundo que nunca se viu. Não era ideal, tampouco curtido, somente um barulho, de certo bagulho, que soprou e saiu. Pobre criança que hoje lhes conta um cumprimento tardio de abdicação dos céus, sem ver as migalhas que lhe caíam da boca, sem credo ou vergonha de ver o que está ali. Me abraça, meu jovem, rapaz indefeso. Pensa em ti. Veja a si mesmo. Esquece este mundo que o mundo te entrega e se joga na cela de uma vida que segue. Não pensa em mais nada, nem meros porquês. Só pousa e se agita, gira e investiga, dança um voo que não se precisa. Dê a volta da ida... dê coisa nenhuma de coiso nenhum. Vem cá, guri.

Douglas Ibanez
(25.7.2017 - 23h22)


sábado, 22 de julho de 2017

Pele


Odeio esse muro que me barra de frente e me deixa confuso, sem saber como ir. Eu crio uma linha que costura meu corpo, puxando com força uma articulação que estudo. De repente me vejo ligado ao concreto, sem porta ou batente, quebrando o latente que bate de frente com uma rima infame - insolente. Mas eu amo o inteiro, que me consome por dentro, sem eu poder te tocar. Na parede eu respiro e assimilo o presente, constante na mente de um prazer em estar e eu olho com gosto seu rejunte de pedra, tão doce aquecido que me transborda. E finalmente eu entendo, quando o calor me entrega o que eu queria para mim, sem mãos ou janelas, somente na espera de um olhar sem fim.

Douglas Ibanez
(14.7.2017 - 00:15)


quinta-feira, 13 de julho de 2017

Sujeito


Sei mais nada
Do frio,
Todo oco
Por dentro.
Fora o repleto,
Tão perto
Do teto.
Sem-teto.
Deserto e molhado,
Como um rio
Que se foi.
E se vai,
A nado dotado,
Em cheio,
Tão cheio,
Que cai.
Sem freio,
No meio
Do bosque sem flor
Ou sabor,
Da vida sem jeito,
Do amargo no peito
E daquilo no amor.
Tão belo
Tão feio.

Douglas Ibanez
(3.7.2017 - 20h45)