quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Familiar


Tão desdenhados em sua sugerida simplicidade,
Como se fossem pedras que o caminho fez questão de desperdiçar.
Mas há uma beleza em tais olhos castanhos
Que o outro não se contenta em admitir.

São terras brutas paridas do chão,
Que buscam em detalhes um paraíso - uma explicação.
Constroem em si mesmas montanhas de desencanto,
Enquanto tocam o céu sem deixar razões que lhe soltem do berço.

Um mapa deserto sem coordenadas em um abraço de mãe.
Não há medo em plantar o que tem para colher,
Já que o que brota é vida após vida em um brilho antiquado,
Cuja história se tornou areia em vidro torto de buracos sem fundo.

Existe um calor que cresce em formato de gente,
Sem distinção entre curvas desenhadas a dedo.
São olhos que repetem familiares palavras de aconchego:
Te cospem na luz e te cobrem quando tudo chegou ao fim.

Douglas Ibanez
(28.10.2015 - 15h06)

 

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Persona


Há um lugar para um fechar do horizonte com pálpebras da meia noite, onde sinto o cheiro do sangue que me salga os dentes enviesados em carne. Faço as pazes com uma escuridão que outrora me disfarçou em culpa. Me cuspiu na cara o medo que jamais senti. É aqui que estrangulo poesia em uma cumplicidade atônita com o verdadeiro, sem chances de lutar contra a morte, já que sempre pulsa uma desesperada misericórdia aos joelhos do que se pergunta ser. Escuto sotaques que o poeta concede - um brilho na letra com maestria de uma ópera escrita. Um diálogo e uma confissão. Há sempre uma lágrima que molha minh’alma, desrespeita o esdrúxulo - corrupto! - e joga em areia, coberto às poeiras, o meu coração.

Douglas Ibanez
(15.09.2015 - 22h54)