segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Anoitecer das Onze


É como se cortinas fossem fechadas
avisando que já basta por hoje
de tanta luz vazando da vida
querendo carinho de boas-vindas.

Se põe a dormir por cerca de cinco,
contanto os ponteiros para acordar,
passando a borracha na noite tingida,
fingida, brincando tão séria.

É uma tintura finita,
apesar de um denso para sempre existir,
como camada de névoa escura,
crua e com desenhos de ser bonita.

Porque há sol à meia-noite
desaparecendo além das nuvens pretas,
naturais como se grita a vida,
que morre na foice e vive.

O gélido puro nos pulmões avessos,
tão cheios de carros e gritaria,
se apaga de novo, necessário.
Desmonta na água em berço seu.

Tem lua cantando o amor,
desvendo o que viu.
Majestosa e insignificante.
Finita, como o sempre já dito.

Apago as luzes e vejo o mar.
Desemboco em sonhos, listas e listras.
Sou grato pelos opostos, tão nossos,
que os perco em aquarelas.

Humano perto de uma natureza presente,
sentado, descrente.
Eu abro a torneira, o mar desce.
Eu fecho os olhos, o mar vira.

Me gira e me pega pensando,
enquanto bordo estrelas em meu pescoço,
junto a palavras escritas que rodam
e brotam num entrar de segundo.

Douglas Ibanez
(22.12.2018 - 4h08 - Ushuaia)
FELIZ ANO NOVO!


terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Foda


Escuro doente socando na garganta,
me narra segredos,
com sussurros mordidos,
ainda mordendo o meu espírito.

Um furo na carne sortido, qualquer,
e o gozo me jorra, me constrói
em nuances de camadas gemidas,
tremidas, dormentes perturbadas.

Meu colo te chama, cavalga.
Eu toco minha coxa, que venha!
Eu arranco sua língua,
com ela, demônios e profecias.

Te violentam em meu nome,
encontrando paradeiros em cavidades.
Revira-te os olhos, me cospe na cara,
que te bebo em respeito silencioso.

De tão entregue, morto,
de quatro, vivo.
Repleto e complexo, de longe ao completo,
mas ainda assim torto, pejorativo.

Douglas Ibanez
(01.07.2018 - 23h)


terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Colapso


Explode sem freio
No meio da rua,
Tão crua (!) a carência
Que pode e fode.

Latência que treme,
Que quer,
Que cheira a desgraça,
Me xinga, me abraça.

Me pega no colo, sem jeito.
Eu quero e desquero,
Meto a colher e ela se vinga,
Na beira do nada.

Desenfreada é a queda,
Uma visão de sossego,
Que azeda o aconchego, tão feio,
De um pão que devoro todos os dias.

Douglas Ibanez 
(23.06.2018 - 1h23)