segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

O Desmar


São as mesmas pessoas
me rodando no parque.
Me oferecendo o mesmo
que o de ontem.
E o desontem.

Brincam da mesma cilada,
terminada em farpas.
E desenham na areia
o que o mar não quer ver.
O desmar.

Douglas Ibanez
(25.11.2015 - 23h24)



 

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Absorto


O caos me soca aos ouvidos um urro de agouro que me faz arrepiar. É a sentença de morte da paz que aqui vive. Meus vizinhos me espantam em uma fúria de intrigas. Soluçam seus prantos em mantos sem forma, que se aproximam e sorriem desfigurados. Eles tocam meu braço ao possuir minha garganta - um orgasmo sem eco. E ninguém escutou. Sinto cheiro do incrédulo que agonia a alma em um chute sem metas. Não há objetivos em uma anarquia de horrores. O terror me acerta e me xinga de "trouxa". Prova de mim. Me derrota com gosto. Lambe meu rosto em um gozo sem jeito, profundo e profano. Sou devorado por dentro. Uma cadeia de trevas - circular e alheio. Eu furo manchado em passageiras suturas. O monstro se agita, me pega e balança. Encontra a saída, mas antes me beija, me arqueja e cospe em minha cara promessas de um retorno surpresa.

Douglas Ibanez
(12.11.2015 - 19h31)







segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Enigma Sazonal


Olho o espelho,
te vejo sorrindo.
Me culpo sem culpa,
sem boas-vindas.

Continuo olhando, agora
sua expressão corporal.
Ela fala comigo, certeza,
mas é dúbia - um tabuleiro.

Não entendo.
O silêncio bate o martelo
e minha filosofia funciona.
Há algo que eu sei que há.

Como te chamo?
Uma distância levemente gelada,
sem perigos de voos quaisquer.
Isso te serve? Protege?

Sem abraço, mas o sentido me diz.
Aquele sexto que te é de orgulho.
Eu também tenho: detalhes,
uma colcha de retina bem aberta.

Minutos - tudo passa.
Me revejo e questiono,
só penso, nada mais.
Devolvo no beijo um mistério de cada vez.

Douglas Ibanez
(18.11.2015 - 00h30)
 

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Tarô


Sente no muro,
me olhe - me diz!
Estou navio no escuro,
sem diretriz.

Percorre meu corpo?
Labirinto sem céu.
Me encontra na mente,
uma estrela cadente - sem calda e ao léu.

Tenho lido cartas
que o destino me tira,
eles riem sem jeito - sem cara!
E me contam mentiras - mentiras.

Douglas Ibanez
(11.11.2015 - 0h33)


 

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Choro


Rego a planta que nasce podre, 
de raízes incertas e difundidas.  

 Grito o plano que me acerta em cheio, 
sem paciência para hematomas. 

 Vejo o lustre que se apaga ilustre, 
repleto de ideias que se foram sem ir. 

 Conto uma história nascida torta, 
que me tampa as visões de uma verdade vivida.


Douglas Ibanez
(26.10.2015 - 1h07)


segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Entre Aspas


Existe tanta coisa a ser dita em um depoimento que jamais foi escrito. Não vejo motivos para impedir o que sinto, muito menos em gritar minha fúria em ecos que o vazio leva. Não há respostas. O ar se agita em uma linha que fura a barreira do som e agrava a sombra que emerge em euforia. Culpo os astros que mapeiam a angustia - um jogo de planetas de gude em aposta alta. Perco o respeito e uma noite de sono. Onde mora a dignidade em um sussurro de insônia? Quero eu desbravar meu vácuo, sem memórias de um aquário sem vida. Onde há água, há esperança. Mesmo sendo uma ilusão descrita em etapas, entre aspas, voando em asas à decepção.

Douglas Ibanez
(06.11.2015 - 22h22)


quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Familiar


Tão desdenhados em sua sugerida simplicidade,
Como se fossem pedras que o caminho fez questão de desperdiçar.
Mas há uma beleza em tais olhos castanhos
Que o outro não se contenta em admitir.

São terras brutas paridas do chão,
Que buscam em detalhes um paraíso - uma explicação.
Constroem em si mesmas montanhas de desencanto,
Enquanto tocam o céu sem deixar razões que lhe soltem do berço.

Um mapa deserto sem coordenadas em um abraço de mãe.
Não há medo em plantar o que tem para colher,
Já que o que brota é vida após vida em um brilho antiquado,
Cuja história se tornou areia em vidro torto de buracos sem fundo.

Existe um calor que cresce em formato de gente,
Sem distinção entre curvas desenhadas a dedo.
São olhos que repetem familiares palavras de aconchego:
Te cospem na luz e te cobrem quando tudo chegou ao fim.

Douglas Ibanez
(28.10.2015 - 15h06)

 

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Persona


Há um lugar para um fechar do horizonte com pálpebras da meia noite, onde sinto o cheiro do sangue que me salga os dentes enviesados em carne. Faço as pazes com uma escuridão que outrora me disfarçou em culpa. Me cuspiu na cara o medo que jamais senti. É aqui que estrangulo poesia em uma cumplicidade atônita com o verdadeiro, sem chances de lutar contra a morte, já que sempre pulsa uma desesperada misericórdia aos joelhos do que se pergunta ser. Escuto sotaques que o poeta concede - um brilho na letra com maestria de uma ópera escrita. Um diálogo e uma confissão. Há sempre uma lágrima que molha minh’alma, desrespeita o esdrúxulo - corrupto! - e joga em areia, coberto às poeiras, o meu coração.

Douglas Ibanez
(15.09.2015 - 22h54)

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Je Voudrais Danser


Bocas coladas escrevendo na chuva.
É como sexo com a pele sentida,
Espalhando memórias que nascem da nuca.
Se entrelaçam na língua como oitavas que descem para sempre.

É fazer amor ouvindo música,
Com arrepios cruzando olhares dispersos
No apreço do tempo, enquanto segundos.
Eu gemo em um giro. Me ondulo e sussurro.

Cada gota uma poesia.
Intimidades abertas descobrindo o escuro,
Transcritas no suor de luzes. Em foco.
Me encontro à ousadia da exposição extremista.

Prometo verdades com olhos fechados.
Seguro os cabelos que grudam no rosto, me torno humano.
Meus dedos amam em sintonia do acaso. Desejo em ritmos.
Constroem um espetáculo vendado à essência.

Me dedico ao não permitido,
Regido a toques e gritos silenciosos.
Respirar me leva a um infinito só meu,
Que suspira pedindo prazer ao socorro risonho.

Existe algo nas margens que beiram o pecado,
Que diluem o mundano em minutos de amor eterno.
Não há nada a ser visto em um gozar aplaudido.
Me deixo levar e desisto. Existo.

Douglas Ibanez
(14.09.2015 - 17h)
 

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Ephemera


Três nuvens em forma de vento me escapam entre os dedos em parcelas simplistas de algodão doce. São três carneirinhos que pulam do céu, cantarolando cantigas até eu dormir. Quando tento tocá-los, se desmancham em alguma coisa que não sei o nome, mas continuam desenhando no ar, como uma partitura de uma canção cheia de desenhos múltiplos de outras coisas, que também não sei como nomear. 

Meu indicador coordena um caminho disforme, com curvas em todas as direções. Parece um rio de nevoeiro branco daquela manhã sinistra, cujo dia se esqueceu de nascer, escondido atrás das gotículas de azul desperto. Me surgem memórias em paisagens distintas, em posição de lótus para uma oração só minha. É estranho observar caminhos em uma brincadeira de paz difusa. Uma aura que o coração sopra, o momento relembra e tudo se desfaz outra vez.

Douglas Ibanez
(24.08.2015 - 19h32)


sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Direcionamento Confuso


Não sou bom em palavras diretas ao ponto.
Elas se tornam sem graça ao meu ver criativo.
Um jogo tão rápido que se perde no ganho.
Decisão sem volta. Aperte o gatilho.

Sempre flertei com palavras cruzadas.
Encantadoras serpentes que hipnotizam.
Meus dedos são flautas, que seduzem o caminho.
Constroem um discurso que você nunca ouviu.

Melancolia que pensa no latim às avessas.
Não suporto a ideia de me igualar ao comum.
Brinco de mago, ao transformar as fronteiras
Em uma transparente parede sem riso nenhum.

Um mímico.
Meu senhor palhaço que canciona em rosa.
Respiro a poeira que bagunça tudo.
Desnecessária rinite. Correria do luto.

Grito poesia no lugar de verdades.
Não permito o acaso sem pincelar meu artista.
Me guio no escuro apalpando o muro.
Choro por unhas que descobrem tinta.

Que escandaliza: SINTA!
E te expulsam daqui. 

Douglas Ibanez
(14.07.2015 - 00h28)


segunda-feira, 3 de agosto de 2015

O Que Eu Quero?


Queria pousar em uma pista de voo, com destino direto à emissão claustrofóbica de um quarto fechado. Deitar-me nas sombras de uma escuridão qualquer. Não tenho exigências. Tampouco ordens condecoradas com eufemismos. Só preciso silenciar o momento que desconcerta toda a bagunça que se devaneia em mim. Sem mais filhos carentes: bastardos alegres. Seus corpos em epilepsia noturna. Os desligo com o finalizar de um estrobo. Não quero olhos. Não quero dentes. Sem bocas, sorrisos e afins. Tiro-me a roupa e me visto de um céu estrelado que me conforta em destreza do que quero assim. Giro o botão em um longo caminho, com mais de um pouquinho de própria comunhão. Você pode participar, contanto que não me leia. Busco aquele que não saboreia minha dose de ilusão. Venha, estou aqui.

Douglas Ibanez
(22.05.2015 - 00h17)

 

segunda-feira, 27 de julho de 2015

O Dar de Luz


Mais um filho nasceu.
Poesia que jorra!
Pincela meu muro,
Gruda no mundo e se mostra bonita.

Desfila desnuda sem medo do nada,
Pintando meu céu em um colorido sorriso. Quentinho.
Sem gosto de inverno que não quer esfriar.
Sem medo de explodir e precisar explicar.

Ele surge. Ela espalha.
Um abstrato momento sem nada a dizer.
Três tapas, um choro.
O mundo é só seu.

Douglas Ibanez
(14.07.2015 - 00h37)



segunda-feira, 20 de julho de 2015

Paloma


Quero a paz de um manto negro,
Salpicado de luzinhas de areia.
Veludo charmoso que me aquece o inverno,
Me abriga dos males da tradição.

Grito em prantos. Desespero.
Um quarto branco. A saideira.
Meu coração batendo fraco, bem de perto.
Uma violenta guerra de exposição.

Sou tocado por um anjo, que me ilumina o erro.
Sinto doses de adrenalina pela veia.
Entristecido pela indecisão do vácuo. Do incerto.
Busco o sopro de vida. Em decomposição.

 Douglas Ibanez
(13.03.2015 - 12h12)

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Tristeza

Existe uma tristeza embrenhada em meu corpo,
Que surge do caos que banha meus ossos.
Ela nasce da terra regada à amargura
De uma mente brilhante que ninguém escutou.

Explodindo ouvidos de um grito de guerra,
Pisoteando o enterro que se sucedeu.
Ela escreve poemas de uma tarde vazia,
Voltada ao nascer de uma coisa qualquer.

Douglas Ibanez
(16.03.2015 - 18h00)


segunda-feira, 6 de julho de 2015

Em Pontas


Meu coração vive
Uma caixinha de música.
Melodias do além
Para bailarinas dormirem.

Um quarto fechado em poeira branca.
Flocos de neve com espelhos tristes.
O cerne de uma eterna coreografia
São vinte sonhos surrealistas.

Há uma gaiola de espinhos
Cujos pássaros já se foram.
Eles cantam sua ida ao nascer do dia,
Compondo melancolias de trás para frente.

Respiro a neblina.
Revivo ao anoitecer das estrelas.
Sem medo de observar os fantasmas.
Cortejos ao ninar dos espíritos!

Sem rumo, ou qualquer coisa assim.
Quero a sutileza de beijar o vento
Enxergando vertigens que a canção me entrega,
Girando em miragens que o destino cria.

Douglas Ibanez
(10.06.2015 - 12h46)




segunda-feira, 29 de junho de 2015

Tinteiro Noturno


Quando o sono desperta e a mente não para. São imagens confusas de um dia sozinho. O choro não vem. Gritos. Desespero de uma meia-noite pálida, cantarolando notícias do além.

O despertar de um medo é como um degrau em falso que se desmancha no escuro. Uma toca de coelho que não encontra o fim. Canto pelos dedos fluídos de paz, que buscam momentos de sonhos eternos. Eles creem no mundo que é só meu. Vomitam palavras no que se perdeu.

O sono me chama. Me abraça quentinho com jeito de amor. Belisca as bochechas sentindo o sabor dos olhos fechando em promessas diversas. De alegrias concretas que me tragam calor. Minha tinta escorre. Pinga o tapete, me deixa tranquilo. 

Boa noite.

Douglas Ibanez
(29.04.2015 - 00h50)



segunda-feira, 22 de junho de 2015

Doces Fantasmas


São doces fantasmas
Através das sombras.
Que me encontram na luz
Me olhando do espelho.

São doces fantasmas
Que me abrem janelas.
Invadem minha mente,
Personificando passados.

São doces fantasmas
Me sugando a esperança.
Escurecem meu céu
Em uma melancolia nervosa.

São doces fantasmas
Que brincam no escuro,
De uma ladeira sem fundo
Na qual desço sem freio.

São doces fantasmas
Que amamento no seio.
Desobedeço minha ordem,
Causando a desordem!

São doces fantasmas
Sem berço ou apreço.
Eles dançam a vitória
E me abraçam no adeus.

Douglas Ibanez
(11.05.2015 - 11h47)

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Preguiças e Ursos


Hoje eu tenho observado pela janela.
Há frio do lado de fora.
O que me faz lembrar
De quando nevava aqui dentro.

Era o medo coberto de pedra:
Escuro como a meia-noite,
Com uma teatral máscara branca
Desesperadamente risonha. Tristonha.

Eu o sentia com aquela presença.
O gelo que lhe sugava os sonhos - apagava os olhos.
Uma barulhenta besta que gritava em danças.
Suicídios sensuais.

Porém agora temos um lar,
Com paredes acolchoadas
Em braços e abraços.
Um casulo.

Uma lareira eternamente acesa
Em um coração que ainda bate.
São duas metades de dois inteiros,
Que se tornam quatro quando estão juntos.

Me viro e desviro.
Te encontro tranquilo,
Olhando o medo olhando de volta.
Sua íris quebrada.

Feche os olhos.
Me beije em silêncio.
Segundos eternos.
Mi casa, su casa.

Douglas Ibanez
(02.06.2015 - 14h15)
Feliz Dia dos Namorados!



terça-feira, 2 de junho de 2015

A vela, o copo e a escuridão


Sua chama brilha
De olhos fechados.
Sentada no muro,
De joelhos imundos,
Pedindo perdão.

Tudo em volta circula,
Pressiona o artifício.
Tem volta.
Dá voltas.
Se vidra em sacrifício.

Uma sub existência de física consentida.
Alegrias desafiadas.
Rachaduras desiludidas.
Um sopro que lhe apaga,
Sobretudo propaga
A vida.

Douglas Ibanez
(02.06.2015 - 13h26)


quarta-feira, 20 de maio de 2015

O Agora


Sou um anjo de asas castanhas, cuja cor se tingiu de laranja por vanguardas criativas que o tempo já não conseguia guardar. Foi-se o tédio maroto. Um míope teimoso que enxerga o horizonte sem muito esperar. 

São suaves toques de perfeição, que perduram meus anos descritos nas rugas que a poeira cobriu. O alienado de um mundo, que me observa do muro que nunca existiu. Sou caído. Vivido. Floresci aos horrores. Viajei entre mentes que jamais despertaram, mas que continuam carentes do sol que se veste com poesias do leste que o céu escreveu. 

Encontrei no futuro meu passado perdido: um pequeno menino que do dia nasceu. Foram horas comuns de três penas singelas, totalmente despertas do alheio ao meu eu. Hoje broto em alegria percebendo a bondade, que grita vontades que outrora neguei. Chorei minha verdade que se esconde em meu fora. Ele se chama "O Agora" de um anjo feliz.

Douglas Ibanez
(14.05.2015 - 19h25)

terça-feira, 12 de maio de 2015

Abortos do Caos


Existe um glossário de egos difícil de identificar. Presentes em um aquário de ferro, com restos de cérebro, que um dia deixou de brincar. São peças que submergem com criaturas do pântano, um banho de óleo. Sem cura. Sem pranto.
 
Onde está a humildade que demora a se definir? Permanece no fundo, de olhos vermelhos. Com tristeza no sono e clitóris ferido, que nunca deixa de parir. São gritos de socorro, que nascem já mortos em meio a agonia.

São aquelas criaturas que teimam em se olhar no reflexo d'água preso ao matar. São milhares de anos que teimam em cair, sem sorte na queda - morrendo com o sorrir. Um adeus aos nascidos de fonte incerta, já que o inferno é uma festa de orgulho a partir.

Douglas Ibanez
(15.04.2015 - 19h11)

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Estas Coisas

Existe uma coisa embrenhada em meu corpo,
Que surge do caos que banha meus ossos.
Ela nasce da terra regada à amargura,
De uma mente brilhante que ninguém escutou.

Explodindo ouvidos de um grito de guerra,
Pisoteando o enterro que se sucedeu.
Ela escreve poemas de uma tarde vazia,
Voltada ao nascer de uma coisa qualquer.

Douglas Ibanez
(13.03.2015 - 12h12)

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Grito Contemporâneo


São sete batidas de um coração mal humorado, que marcam o passo de uma coreografia repetitiva. O ponteiro, girando em sete, direciona um horário de exposição artística. São sete horas. São sete segundos. Sete momentos para refletir meu universo transbordando de memórias, que sofrem tentativas de latrocínio todos os dias, como disse mês passado. Retrasado. Desastrado. Me leia! Seu atrasado, como sempre.

Poxa vida, como é estar agora? Pergunta a alma toda aos tapas, que embala melodias desencarnadas por aí. Ninguém escuta. O corpo age em forma do que passou sem preocupação.

Tenho dissertado sobre atualizações do destino, válidas às sombras que teimam em me perseguir. Passadas de anjo em um sonho explorado. Um desespero da ira, que gargalha graves sons de insanidade, com os olhos girando em órbita. Sete vezes.

Este é um pedido de socorro para ser ouvido. Um espetacular murmúrio de asas ao vento, comprido e enrolado, dentro de uma garrafa de vidro. Soletrando canções. Descobrindo meninos. Corações partidos. Colaborações rítmicas que se encaixam muito bem. Ao chão me entrego. Obrigado.

Douglas Ibanez
(19.04.2015 - 01h)


terça-feira, 14 de abril de 2015

Lavado


Eu só preciso de um banho.
Água quente em cabeça fria.
Estado de glória sem alegria.
Um tiro molhado, pingando na mente.
Me soa selvagem,
Mergulha latente.
Tristeza atraente do meu dia a dia.
Olho o relógio,
Já passou a euforia.
Me deito na cama buscando a viagem,
Estou atado. Sem quem me ama.
Preciso de um ganho,
Pressinto um presságio.
Mais um estágio!
Da vida que se deita,
Em mais uma noite tardia.

Douglas Ibanez
(03.04.2015 - 00h02)



sexta-feira, 3 de abril de 2015

Invisibilidade


Tenho a qualidade de saber ser invisível. Quando quero, quando preciso. Bloqueio os sentidos, enquanto aqueço os meus instintos. Busco na ancestralidade um poder que me envolve. Preenche o espaço observado por lobos perdidos. Olhos famintos, em alta temporada de caça ao outro.

Em meu sorriso o seu reflexo, que te encanta no mais narcisista sentimento de comprometimento consigo mesmo. Uma armadilha que te aflora. Me apaga. Me devora. Caminho em meio às pessoas, por suas sombras aumentadas. Crescidas e egocêntricas. Com hipermetropia acumulada.

Encontro o céu que quero ver. Dou meia volta no mundo inteiro. As ruas são silenciosas, quando a inflação deseja o outro. O sol não consegue tocar a terra, que seca sem sua vitamina D. Me esgueirando pela realidade, a surdez não me atinge e a cegueira me conduz.

Onde estou? Você não sabe. Quem sou eu? Menos ainda. Com meu dom sou invisível. Invencível! Protegido do total foco de luz. Sem palmas, por favor.

Douglas Ibanez
(12.03.2015 - 23h31)


sexta-feira, 20 de março de 2015

Pós-Parto

Sinto uma tristeza que me conforta.
Um embalo noturno no colo de mãe.
Me inspiro no cheiro,
No gosto profundo.
Bebo do seio que um dia se foi.

Escrevo uma vida a partir de migalhas.
Não são minhas verdades que contam até três.
São palavras distintas que brotam,
Se matam.
Me encontram na estrada sem saber meus porquês.

Douglas Ibanez
(12.03.2015 - 23h58)

quinta-feira, 12 de março de 2015

Dançando


Aprendi com a dança a ter asas nos pés.
Cada movimento é uma graça divina,
Uma cantoria de palmas que ninguém vê.
É a alegria dos anjos naquilo que crê.

Giro em penas brancas que nascem tortas.
A luz me atinge em pequenos segundos,
De um contratempo inspirado no refletido mundo,
Que me faz voar em melodias do além.

Douglas Ibanez
(04.03.2015 - 12h59)









quarta-feira, 4 de março de 2015

Portfólio de Elefante


Enxergo agora a necessidade de proteger cada memória que um dia se desenvolveu. Pequenas notas de rodapé, ajoelhadas em frente ao longo texto que seguiu em frente. Um livro sendo escrito em páginas apressadas, que quando soltas transformam desenhos em animações, em um roteiro de suas próprias palavras sortidas. Letras caem. Pulam linha a fora. O clichê não para: o que passou, passou.

Mas tentam tomar o que correu no rio. Águas escuras, pontilhadas de estrelas que se revoltam e nadam no sentido contrário. Um cobertor obscuro de um Setembro falante. Fotografias molhadas perambulam à luz de velas, narrando histórias que se afogaram correnteza a dentro. São crianças sorrindo do preto e branco da alma, brincando com o sépia do tempo. Meu caro, este é o maior desafio do colorido da vida. Repentino, no melhor estilo Polaroid de ser.

Preciso salvar meu aconchego. Transformar o leito em poeira de cima do armário, soprada para longe em uma história em quadrinhos. Sou elefante galante, com resquícios que ninguém vai tirar. Mediunidade elegante, de sutileza marcante, que ninguém deve enxergar. Me lembro de tudo que já senti e das margens que já molhei. Não há espaços para mentiras, de sua terra que jamais toquei.

Douglas Ibanez
(03.03.2015 - 19h48)



quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Cantiga de Ninar


E a chuva molha a poesia.
Um velar do sono que não dormiu.
São gotas vidradas de um vento raivoso, que já partiu.
Quebra o desejo de sonhos leves,
Sopra para depois o que se feriu.

Chove lá fora.
Chove aqui dentro.
Segue chovendo o azul anil.


Douglas Ibanez
(12.02.2015 - 12h57)



quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Polpe-me


Eu sou do tipo maduro,
Que nem manga amarela.
Broto no alto, perto do céu.
Dispenso as verdinhas. Azedas.
Cheias de frescuras e acidez.

Mas tenho tempo durável,
Por isso aproveite! Enquanto sou amável.
Suba às alturas e me pegue jeitoso.
Me corte, divida. Deguste meu gosto.
Sou doce do tempo. Saboroso.

Caso contrário, me solto de ti.
Perco as estribeiras, caio para o chão.
Viro adubo na terra. Nasço outra vez,
Em outros pomares, tomares e amares.
E você verde de coração.

Douglas Ibanez
(11.11.2015 - 17h54)





segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Erótico

Um homicídio é executado. Eu sinto. Na pele. Brevemente no agora, a sanidade vem sendo estrangulada. Uma língua intrusa lhe preenche a garganta. Sedução que sufoca. Engasga com o desejo. Pede uma permissão sem resposta, com carícias sobre arrepios. Ah, os arrepios. Eles têm me revelado negativas falsificadas, que sussurram algumas vontades presas antes do toque acontecer.

Os movimentos uniformes, aqueles da física quântica, ou clássica, tanto faz, continuam por uma busca sem força que os impeça de inspecionar cada detalhe. Isso é importante: ser detalhista. Virginianos. Sempre observando com os olhos ao redor do corpo. Só esperando outro para que fique cego de corpo inteiro, mente inteira!

Apocalipse em chamas. Negras, por falar nisso. Segredo oculto no silêncio daquela noite. Mas as sombras são companheiras de assassinato, principalmente quando se trata de mim que estou morrendo. Morro lentamente. Minha vontade de gritar é intensa, daquelas de desespero traiçoeiro. Um prazer único na impossibilidade do som. 

As paredes têm ouvidos... e como têm. Assim como eu tenho também. Mas não escuto, só sinto. Uma ordem por meio do vento solto, toca minha orelha. Eu sei que quer mais. Outro vento. Uma ventania. Jogo a toalha e liberto os espíritos. Uma luxúria me atinge sem pretensão de qualquer objetivo. Meus olhos piscam. Entrelaço nossas pernas. Os pés se encontram em igualdade, querendo fazer parte do calor de dentro. Eles querem convidar o esquisito para a ceia e botar o íntimo à mesa.

Sinto cheiro do suor brotando pelos instintos. Pedindo socorro por uma saborosa morte entre doses maneiradas de selvageria. O controle é necessário. Se o mundo acorda, a vida volta a fazer sentido. Não! Eu quero o controle direcionando a tensão, tomando conta da alma em uma perfuração perfeita. Sem sofrimento. O mundo não deve nos ouvir agora. Eu sei, eu sei. o perigo é risonho. Eu também sou em momentos como este, bebendo a taça de enlouquecimento mantido.

Eu quero gritar. O quadril também. Os joelhos nem se fala! Têm convidado curiosos que não existem para uma sessão privativa. Mas se existissem... o que fariam?

Estou nadando em lençóis. Sem roupas, sem água. Entre amor e colisão. Que morte contraditória! Não peça. Continue. Sem arrependimentos tardios. Quero uma súplica de adeus quando encontro o paraíso, ainda acontecendo em estocadas tensas, secretas e, como em toda noite duradoura, no controle. O serviço acaba em uma cama molhada, os corpos vazios. 

Sem cerimônia, devolvo vento para onde soprou. Lambuzo os lábios que ainda seduz. Beijo a testa em prova daquilo. Me encaixo. Um último suspiro. E morro mais um pouco, até a manhã seguinte, quando as sombras terão ido embora levando fotografias de uma insanidade privada. Provas do assassinato do lógico e do que se diz ser moral. Eu sinto... eu ainda sinto.

Douglas Ibanez
(14.01.2015 - 02h51)