quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Braile


Venho tentando encontrar certas palavras - meias - que soem como se fossem inteiras. Revejo figuras que me inspiram de alguma forma. É tudo tão jogado, que não entendo por onde meus palpites palpitam, a cerca de assuntos que não me tocam com a necessidade que tenho. Mas eu me cubro com alguns rascunhos, proeminentes de rasuras que costumavam riscar fatos, ao sussurrarem poesias que não queriam ser lidas. 

Que coisa: eu adoro uma boa leitura! E sem contentamentos com tão pouco, fecho os olhos, balanço as ideias, e a neve se espalha como um círculo de beleza mútua. Ainda não sei o que dizer, mas lambo o ar com os dedos cheios de significados, que me guiam para o que quero contar. Não enxergo. Eu beijo o invisível e sinto o que preciso sentir: verdades que madrugada sussurra - desorganizadas.

Douglas Ibanez
(9.10.2016 - 1h17)


segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Dormido


Lá vem a fronha que me consola, dos pesadelos que ando tendo, como pedaços da lua que despencam em minha cabeça - pesados e com gosto de queijo. Eu como pelas bordas, tentando saber onde tudo vai dar, sem me dar conta que tudo já se deu em um dado de seis lados, que continua girando, enquanto eu ando para lá, para cá e para outro ligar - de pontos tortos que se conectam não tão naturalmente. Quando os olhos se fecham, eles contam, entrelinhas, o sono de outro alguém e eu escuto, como tudo na vida, a batida suave que a noite me oferece: uma alforria das quedas que me soltam para baixo, como um sonho mal dormido, que dormi horas passadas, acordado.

Douglas Ibanez
(11.11.2016 - 3h24)


segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Desmemorial


Quando o menino segura círculos congelados, ele carrega o mundo nos braços, de uma maneira que somente ele desconhece. Há o gostinho do velho na boca, que se derrete com a língua salivando o que já aconteceu. Sem rodeios, nem claras expectativas sobre o passado. Não existe motivo: desmemorial. E do que era sem jeito, apareceu o capaz de ditar regras automáticas em uma escrita automática, após decisões manuais de um lugar que somente o guri parecia saber. Continua nevando uma tempestade... permanece chovendo água do céu. Não há história para sentir desta vez.

Douglas Ibanez
(11.11.2016 - 3h16)


quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Um solo


Te espero deitado,
de pernas abertas,
contando detalhes
sobre meu corpo nu.

Divido meu dia nos lábios,
silenciando a vontade
de continuar a história,
morta sem saber que viveu.

Em conversas da noite,
são meus arrepios que dizem
gemidos que nunca direi
de olhos abertos.

Eu mordo sua boca
enquanto preencho a alma,
entregue ao meu colo
que continua dançando.

Te fodo no hoje,
em promessa,
que amanhã eu retorno,
porque de você eu preciso.

E deixo escrito,
meus desejos de te fazer,
como erros perfeitos
que continuo criando.

Um oceano
me enxarca de você.
O gosto me permite,
enquanto eu apenas recito.

Adeus e a poesia se vai,
deixando perdida
a minha orgia só sua.
Peregrina, mutável e residente.

Douglas Ibanez
(09.10.2016 - 1h46)




domingo, 6 de novembro de 2016

Colateralmente


Desenho dois arcos em suas sobrancelhas, à noite. É no meio do nada que escuto, calado, o que não sai de você. Deixo meus rastros em suas pálpebras, que permanecem fechadas. Eu gosto. 

Suspiro sem entender e apesar de meu pesar não parecer tão interessante, no momento, me encosto na aura, que teimo em criar, e revelo palavras antigas - estranhamente bonitas - que nem eu sabia conhecer.

Se posso tocar, porque não o faço? Encosto nos lábios o poder que os olhos me dão e me deleito com a alegria imensa de universos que se colidem rapidamente. 

É um tipo de inocência que me prende em um sorriso perfeito. Paro de respirar. Rabisco o mesmo rosto e tento me desvencilhar: não posso. E a energia segue. 

Eu cuido, e descuido, em uma porção de alguma coisa que desconheço, mas que eu prefiro dizer que quero - preciso - reconhecer. Sigo, em detalhes. Quem sabe?

Douglas Ibanez
(23.09.2016 - 03h06)





sábado, 8 de outubro de 2016

Sommomenta


Gosto na boca daquele carinho que me conta detalhes, quando a chuva já caiu do lado de fora. Consigo dizer meia dúzia de palavras, com olhos que observam constelações que não quero nomear. Para quê? Então, escuto a emoção percorrendo meu corpo, em um abraço gostoso, não obstante choroso, que me diverte em um tipo de saudade de um momento que ainda acontece.

Eu sinto segundos, em gotas, se esvaindo de mim.  Não quero ir. Eu quero sorrir, seriamente satisfeito em tocar um olhar que gargalha de volta e me conta as graças que só ele sabe enxergar em mim. Sem ar. Todas as coisas tendem a ser formais demais para quem sou agora. Sou fraco. Levanto meus braços e me entrego ao acaso. 

Estou lendo nossa história em beijos que se tornaram brechas do espaço-tempo e escorrem por entre meus dedos, sem que eu consiga pegar. Mas preciso? Na verdade, eu desisto. Prometo reaver minha vida depois que as horas baterem na porta, pois agora eu me perco, e me enrosco, nas nuances que as peles descrevem, sobre aqueles que foram e não estão mais aqui. De novo, meu. Mais um pedaço, uma lágrima e a palavra, de que fique aqui todos os dias.

Douglas Ibanez
(02.09.2016 - 02h08)


quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Continua?


São tantos escritos que nunca foram, assim como as coisas que resolvem pensar, sobre o que vem depois das cortinas. Olho para o céu e ele se torna um tecido alaranjado, com manchas azuis que não contam a verdade, se são boas ou ruins. Só vejo costuras que ligam qualquer coisa, me sentindo perdido ali no meio. 

Douglas Ibanez
(03.08.2016 - 1h17)


quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Supernova


Um cobertor de letras que me aquece de noite. Eu o costuro nos olhos, na tentativa, e enxergo estrelas que querem ser vistas, mas ficam vermelhas com o irracional medo do que ainda não aconteceu. Se me lambuzo no veludo do céu, eu encontro palavras que me abraçam nos sonhos e descrevem abstrações que o interrogativo tenta desviar. Eu me viro de lado e tento dormir.

Douglas Ibanez
(02.07.2016 - 2h38)


quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Sobre Sopros


Eu penso em qualquer coisa que me tire o sossego. Nenhum intervalo de tempo é garantia de que a alegria esteja na esquina. Entendo os passos dados com cautela, sem me importar muito com o que ainda estar por vir, mas eu me questiono e me encontro, fazendo o mesmo e o mesmo, de novo. São como perguntas de areia: eu sopro e elas partem para longe, sem me dizerem o destino, ou se voltam qualquer hora.

Douglas Ibanez
(25.06.2016 - 00h33)


terça-feira, 6 de setembro de 2016

Desnuvem


E quando noto, me vejo desconcentrado e me percebo desmantelado em um pensamento perdido - daqueles que não entendo e me desconcentra mais um pouco. Me desmonto - como um boneco quebrado - ao desdobrar, em três lados, uma face que alguém já bateu. Me desconserto ao lembrar dos minutos que se passaram, eu não sou mais o que fui. Desfigurado é um pensamento sem nexo, que paira nas mentes que flutuam tardias. Não há significado. É tudo sem
coerência, sem coesão. Desconexo.

Douglas Ibanez
(13.07.2016 - 23h47)
Happy birthday, Doug!


quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Breu


Eu estico meu braço, a procura de uma mão estendida. São duas da madrugada e eu aqui, tentando encontrar maneiras de escrever o que quer que me venha em mente. Minha televisão já desligou sozinha: o timer estava programado para 180 minutos. Escuridão. Minha cabeça está cheia de pensamentos, ou talvez hélio seja mais condizente com a realidade da coisa. Eu flutuo para uma outra hora, com perguntas que arranham minhas paredes e me deixam louco. Perdi meu mapa e não sei como desenhar outro; como eu disse, está escuro. E se busco conforto é pelo bem maior que estabeleço em mim mesmo. O diálogo acontece, mas eu só queria calar a boca.

Douglas Ibanez
(02.07.2016 - 2h32)


quarta-feira, 24 de agosto de 2016

O Sangue Inglês


Cada toque é uma gota de sangue em um rio seco, cheio de memórias de ninguém, que nunca aconteceram. Mas elas são inesquecíveis. E você precisa pagar o preço, por banhar-se em águas tocadas pelo o que não mais existe. Eu bebo do cálice que se quebrou em partilha: um pedaço de mundo para cada um. Que venham as dezenas de histórias que o povo repete e repele, ao mesmo tempo, uma ínfima parte da coerência que é o pensar. E as verdades continuam correndo, sem estrutura para observação, e enquanto corre, ela escorre, discorre e morre uma morte de um toque, que se apagou novamente.

Douglas Ibanez
(02.06.2016 - 0h13)


quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Brilho na Tormenta


Uma luzinha constante, na palma da mão, é um aceno distante que o momento lhe entrega. Não é cheia de brilho, contemplado em camadas... aquele desperdício que o fogo chama de si próprio. Só vejo uma cria, sem medo e sem a cina de que algo vai dar errado. 

Contraria as tendências de um mormaço inquietante, que queima a pele sem nem existir no calor do segredo - uma gritaria sussurrada no invisível. Não, essa aqui reverbera no não obstante, enquanto derrete a bondade de uma fé que o céu tirou do mundo. 

São escalas de cinza de um dia chuvoso, que não atingem a luzinha, soberana na queda de uma gota de hoje. Enquanto os olhos permanecerem abertos, há muito a ser visto em um horizonte qualquer.

Douglas Ibanez
(07.06.2016 - 00h36)


quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Ego


Há um monstrinho enrolado manta, que cresce em palavras comidas, após descer pelo esôfago de quem escutou. Ele cresce todos os dias e se desmancha quando ninguém mais o chama... sem sua alimentação. Mas salienta, com atenção, que encontrou em si mesmo o centro do mundo e pede perdão por ser quem é, pois o maduro continua verde e as palavras bonitas são vomitadas para fora, como quem se preocupa, apenas, com uma digestão de vaidades regradas. Sem falas. E com uma dose retida de coesão.

Douglas Ibanez
(15.05.2016 - 23h41)


quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Bercolocado


O que seriam dos detalhes,
sem meus olhos que os observam?
Os carrego no colo, com paciência,
e amamento, desconjuro, o natural.

Reconfiguro a partir da cena, entrelinhas,
que escrevem o honesto sem nem notar.
E sinto o poder ao ler cartas sinceras,
de uma rotina metódica que vira poeira.

Os segredos reagem ao toque certo,
as pessoas se escondem - se mostram.
E eu... bem, eu só conto as histórias
que o silêncio disse de olhos fechados.

Pois é nele que transcendem os desejos
e a verdade das coisas,
que ninguém sabe.
Nem mesmo você.

Douglas Ibanez
(15.06.2016 - 8h16)


quarta-feira, 20 de julho de 2016

Pequenina


Às vezes, a escuridão brinca com a nossa inocência e se distrai, como uma criança, nas possibilidades que os sonhos lhe dão. Fragmenta-se em pedaços aleatórios de um sorriso carente, se remexe sem pressa e na parede desenha, e repensa, desejos sem prazo para acordar. Ela rola na cama e saboreia o bocejo. Em meio a estrelas, brinca sem mapa e só pensa em ser qualquer coisa, quando se unir, novamente, a si mesmo. 

Douglas Ibanez
(15.06.2016 - 14h08)




quarta-feira, 29 de junho de 2016

Um beco ao amanhecer


Odeio ficar sem saída, com o dever despreocupado de deixar acontecer. Existem horas e horas, mas o agora não é sobre nenhuma delas. E eu questiono meus poderes quando me encontro em tal situação de mão única: impotência seria uma palavra muito abrupta para tal? É como um joguinho patético que repasso em mente. Não posso perder o controle, senão uma, duas, três, quatro vidas eu devo perder. Sufoca, entende? 

E sem perceber já estou para baixo, com a ajuda do velho sorriso esperto, uma sobrancelha erguida ou, quem sabe, em dias mais corridos, um rosto que diz: PARE! Eu saboreio o preparo para as coisas mais complexas que posso vir a experimentar. Por isso, não me poupe de minutos questionados em minhas ligeiras passagens de compreensão. São coisas só minhas, aleatórias, mas que, ainda assim, me transportam para a força que preciso de um bem-estar próprio e comum, ao passível de erro. 

Douglas Ibanez
(11.05.2016 - 8h25)


quarta-feira, 22 de junho de 2016

Mestre Cuco


O cuco
encuca
com a cuca
encucada.

Se sou cuco
com cuca,
já encuco
o encucado.

Encucando
uma cuca
que encucou
como um cuco.

E continua encucado,
encucando,
cucando
a cuca do cuco.

Cuco-cuco,
cuco-cuco!

Douglas Ibanez
(11.05.2016 - 8h32)


quarta-feira, 15 de junho de 2016

Umbilical


Quando o medo sopra meu umbigo, eu sinto frio no coração e minha vontade é desistir daquilo que, em um breve momento, não me vejo em obrigação. Se meu choro é como vento, ele grita bem baixinho: do tipo gelado que ninguém sente, mas deixa a gente doente.

Mas, ao mesmo tempo, me excito com a ideia de um pavor que vive quieto. Algo novo, sem freio... me desligo e explico, a mim mesmo, que não sei se é esperto, reverenciar um devaneio sem a chance de retorno. O que seria mais correto? Não sei ao certo... não sei.

Douglas Ibanez
(10.05.2016 - 18h33)



quarta-feira, 8 de junho de 2016

Desgonexia


Busco uma linguagem que ainda não tem nome, em tentativas do acaso, todo dia diferente. Eu olho para o que sinto, sem me preocupar, exatamente, com uma resposta imediata. É mais uma espera aguda e desenfreada de envolvimento mútuo: sem explicações excêntricas sobre o ser ou o não ser. E isso gera filhos, netos e bisnetos, que educo, com o tempo, como educaria a mim mesmo. Ou não... quem sabe o que digo? 

A criatura me cria enquanto criador criado: é esse o tipo de idioma que me afeta às estribeiras, em um grau inesperado de relutância pela arte que exprimo. Eu tento fazer o necessário, mas é complicado quando se diz o que se diz, sem dizer aquele dito. Olha eu aqui de novo, escrevendo em muitas línguas que só eu sei entender. Mas quando vejo...  já surgiu! 

Um processo. Uma utopia sem precedentes, de um passado que me espera, pois o JÁ já vai se embora e o agora não morreu. Nunca morre. Me encontra na esquina e jamais sossega o facho. Eu gosto, na verdade. Tampouco me preocupo, pois seus restos permanecem em alguns pedidos de ajuda colaborativa. Sei bem o que me falta e todo dia é algo assim: designado, mas sem designação. 

Se figuras de linguagem falassem, as minhas estariam em praça pública, cantando para o mundo um flerte de alegria. Cada dia de um jeito, sem o certo (ou o errado). Se moldando, ao fazer o compreensível, que todos aqueles preferem não ver. Eu só digo e espero pelo o que (e como) digo de volta.

Douglas Ibanez
(10.05.2016 - 18h22)


quarta-feira, 1 de junho de 2016

Água parada


Eu converso
e explico, 
que o seleto, 
e o insípido, 
fazem parte
do nada. 
Eu só paro
e respiro, 
minha água
molhada,
que envenena
o sentido.

Parada. 

Douglas Ibanez
(10.05.2016 - 18h40)


quarta-feira, 25 de maio de 2016

Sem voz


Um grito no penhasco, sem o retorno de alguém. Ouço minha voz em meus cabelos - um carinho no meu ego. Eu converso em silêncio com a paz que me encharca, enquanto encaro um oceano indo e vindo em maresia. Sem saída para o onde, haja ele com quem estar. 

Douglas Ibanez
(30.04.2016 - 19h)


quarta-feira, 18 de maio de 2016

Diagnóstico em Sete


Quando a semana começa, ela logo desperta um aroma estranho. Ele cheira ao desânimo, chegando ao crisântemo de uma coroa de rainha, que secou na lagoa, com uma gritaria boa, de uma memória só minha.

Se desfez na imagem de um riacho fluído, com margem sem terra, sem filho ou ouvido. Vive cinco momentos, quando joga-se a pedra e inicia fragmentos de flagelos sem jeito, singelos por fora e por dentro perfeitos.

Douglas Ibanez
(27.04.2016 - 0h42)

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Colheita


E a vontade lateja
um pedido de alforria.
É uma ferida que vibra,
se desmancha.

Ela engole seus próprios pedaços,
que caíram no chão,
sem explicação para o apetite,
que cozinha palpites em meros abraços.

Nefastos, brincam de aleluia.
Se jogam na tela como mosquitos,
perseguindo luxos que criam asas,
mas morrem na praia, pedindo atenção.

Eu abrigo os sem-nexo,
como um coração estéril,
de um jardim fértil de embriaguez.
Frígido e com maçãs podres ao longo do dia.

Douglas Ibanez
(27.04.2016 - 00:15)


quarta-feira, 4 de maio de 2016

Ciranda de Onças


Vejo pintas
Onde não havia como haver. 
De repente surgiram, 
De repente, gritaram.

O rugido amargurado,
Ecoa como ecos de solidão
Raivosa, pedindo respeito, 
São crises da criação. 

Um talento de postura, 
Que se deita em amargura, 
Mais uma vez sem saber nada. 
Escreve momentos, respira palavras. 

Se um soco lhe atinge,
Enquanto enrola o teu rabo, 
Suspende o corpo e tateia o suspiro. 
Engarrafa na noite, em um umbigo. 

O cordão é pretensioso, se desprende, 
Desprendido.
Há menos dentes que fúria,
Embebido de gula - atraído.

Douglas Ibanez
(27.04.2016 - 0h44)


quarta-feira, 27 de abril de 2016

Há de ver


Há tanto
e há nada.
Há sempre
o adeus.

Há o simples
desgosto.
Há o dengo,
que prometeu.

Há algo
sem haver.
Há tudo,
sem se ver.

Há eu
e o não eu.
Há o meu
e há o seu.

Há coisas
conversadas,
há letras
bem versadas.

Há sentido
sem sentido.

Há o agora
e não demora
e há o lá fora
aqui dentro.

Há o peso,
há o pesado.

Há o eu mesmo
não notado.
Há no escuro
o que há de estrelado.

Douglas Ibanez
(27.04.2016 - 0h24)

segunda-feira, 18 de abril de 2016

E a Rosa Despedaçada


Foco! Quando a rosa se deu corda, sete pétalas brilharam em um vermelho distinto, no horizonte tão perto. Estava ali, ao alcance de meus dedos. Podia vê-la sentada, com as pontas esfoladas, sem vontade de se levantar outra vez. Havia tão pouco que o cravo saíra do palco - as luzes se foram em uma tormenta que ninguém entendia, um chacoalhar repentino de folhagens desrespeitosas, que amarelas de raiva despedaçaram um pedaço de amor.

E ali ela ficou, por mais um tempo. Um jardim passou por sua vida, sem nem notar, ao menos, seus abraços solitários aos joelhos sangrando. Mais pétalas escorriam - era o anúncio de algo - e o sol surgia como quem nada queria. Girassóis giravam em roda. Há busca por luz, quando o mundo chega ao seu fim? Não sabia dizer. Ela estava por ela, mas a plateia aplaudia seu estado de culpa e espremia arte de um fruto que nunca haveria de nascer no outono. Foco!

Me dei conta do espetáculo. Foco! E mais pétalas caíram. Ninguém a via, nem sentia seu odor, destruído por damas noturnas que riam com singular desespero. Quando a memória se tornou ideia, tão doce e singela, o iluminador começou o poente, defendendo aquele cravo, diziam as boas línguas, doente. Quem perguntou de um despedaço do outro? Era assim que as cortinas se fechavam: uma história acabada, em uma inacabada, que um e outros insistiam em não assistir.

Douglas Ibanez
(18.04.2016 - 15h31)












quinta-feira, 14 de abril de 2016

O Silêncio e a Morte da Bezerra


Quando a mente resmunga, boa coisa não vem. Ela se mexe no berço, descobre os pescoços e chora outra vez. São gritos tão fortes que acordou a vizinha! Que berrou com o filho - verdades não ditas. E a mente ouviu e chorou mais um pouco. Tinha fome do seio que o pai não sabia lhe dar, por fatores biológicos, certamente óbvios, que só sabiam limitar. 

Uma criança recém-pintada, virando entre os lados, com sono e sem jeito. Irritado. De olhos arregalados em uma estrada no fim da cama, com todos os faróis esverdeando uma liberdade intensa e perigosa. Era o problema da ira, uma dançarina fogosa, que acordava a mente, cada vez mais chorosa.

Isso não passa. Tampouco promete parar. Mas eu a pego no colo, balanço em meu peito e a amamento no escuro de um silêncio leitoso. Brota do corpo naturalmente e me fascina sem jeito, pensando no nada e em nada - parece até gente! Que momento gostoso. Sorrio e deito (tento) de novo. 

Douglas Ibanez
(13.04.2016 - 23h58)


quinta-feira, 7 de abril de 2016

Sopa de Letrinhas


Cada gota uma letra,
uma palavra que escorre,
desenrolando sentenças

de morte.

Uma estrofe bendita,
que conta o que sofre.
É o contrário de histórias,
cascatas, em choradeiras.

São páginas novas,
de uma leitura tão velha.
Um livro de pó, que ao pó retornou.
É sem vida, a vida vivida.

Douglas Ibanez
(02.04.2016 - 0h52)


terça-feira, 29 de março de 2016

Respirações


Eu sei que o que sinto é triste,
ao mesmo tempo que me recorda gracejos.
Não consigo contar alegrias,
já que elas permanecem perdidas, ressentidas,
de algo que nem elas entendem direito.

Tem um garotinho chorando ao meu lado.
Ele pede carinhos que eu sei lá como fazer,
algo entre o cafuné e o abraço bem forte.
Na dúvida, choro com ele
e respingo lágrimas como um toque que não foi.

Quem passa, não sabe o que se passa,
nem muito menos tenta enxergar o ocorrido.
É normal, é normal… eu sei.
Eu sei lá.
Não sei, não.

É estranho.
Um senhor está fungando, do outro lado da rua,
como se houvesse um caminho
e no meio, a lua!
Ele entende das coisas, mas parece perdido. Eu sei.

Continuo chorando, sem culpa,
dos efeitos do sol, que se uniu
à chuva.
Faço a mínima ideia de onde partir,
por isso não mexo, nem deixo, o céu abrir.

Só deito no banco, com a cabeça 
no colo do menino.
Respiro e desrespiro. Sumo um pouquinho.
E o velho me acude, como uma viagem no tempo,
sem tempo, e parado na hora que aquilo aconteceu.

Douglas Ibanez
(28.03.2016 - 16h19)



terça-feira, 15 de março de 2016

Madrugadas


Quando o escuro me abraçou ontem à noite, contou histórias de terror, em meu ouvido, que não pude esquecer. Sonhei com elas ao longo das horas - crianças teimosas que não queriam dormir. Fizeram uma roda e soletraram cantigas. Eram três garotas de vestidos bem longos, negros e com cabelos presos em pequenas tranças, que desciam pelos ombros sem nenhum tipo de vida. Havia melancolia naquela ciranda incômoda, que arranhava as paredes do quarto como se pedisse, desesperadamente, por um sopro de liberdade. Seus olhos brilhavam com uma luz que não tinha. No sorriso apagado, um alerta: cuidado com o que conjura em palavras, sob o pretexto de um desejo que não se conteve. Me virei, questionando.

Eu ouvia um piano. Toques de melodia que agora elas não conseguiam mais dizer, sem que o barulho da noite gritasse. Seus dedos gelados percorreram meu cobertor, em busca de uma abrigo que não existia. Pulavam em meus ombros como almas levadas, mas que foram deixadas, sem saber, para trás. Elas não tinham face. Seus rostos expressavam o que precisavam expressar - o contrário daquilo que ninguém sabia, enxergava, ou procurava saber no silêncio. Uma voz ecoou pelo escuro, que ainda me abraçava com jeito, para que eu não caísse em seu leito. Ele sussurrou as palavras como foices normalizadas, que brandiam nos céus uma verdade inconstante.

Deite-se no vácuo, criança ingênua. Se cubra em estrelas que o desconhecido te entrega, sem saber que um dia você se tornaria uma delas. Cada uma olhou para a névoa, questionando o que era aquele ser que eu não via. Houve um momento em que o mundo parou e nada fez mais sentido. Um hálito fresco beijou minha pele. Me resfriei no passado que agora partia, cantarolando memórias das meninas de ontem. Eu ouvi, ao final, uma risada travessa e um selamento de paz, que jurava perdões e desespero oportuno. Dando um passo ao avesso, eu olhei para trás, observando portões que me jogaram poeira. Não havia mais nada.

Douglas Ibanez
(14.03.2016 - 16h18)


segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Amor que ama amar


O Amor tem escrito cartas de amor, 
com formas de um amor perfeito.
Perfeito como o Amor que ama, 
depois de chorar pelo amor derramado. 

Isto é sobre amor sem rodeios, 
do tipo que o Amor não entende. 
Amor bagunçado sobre seus sentimentos, 
que crescem sendo amor de verdade.

É a verdade, a perfeição do Amor, 
que grita no espelho ao ver amor refletido.
É distante do amor que disseram, 
mas tão perto daquilo que o amor realmente é.

E escreve AMOR com o indicador, 
ao querer saber se amor era só uma palavra,
que nasceu de um Amor que ama
como uma escolha de amor diária e batalhada de si. 

O Amor se inspira e se escreve em poemas.
Quinta estrofe de um Amor perplexo,
sobre as dúvidas que matam de amor
o Amor que ama amar.

Douglas Ibanez
(29.02.2016 - 9h06)



segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Toques de Recolher


Estou sentado em seu colo, de olhos fechados nos olhos abertos. Estamos nus, apesar da nudez nem sempre ser permitida - sinto falta desses relatos de veracidade, beirando um romper que me come do avesso. Mordo os lábios sem saber de quem são: meus ou seus? Tanto faz. Aprecio o líquido que escorre entre as bocas, com gosto de um vermelho amargo - pesado e jeitoso ao mesmo tempo. Isso me excita, aliás. Desce pelo seu pescoço sem que você perceba o quão confuso é desperdiçar uma única gota que brota da gente. Limpo com o dedo e a beijo de volta - é minha. 

É hora de subir um pouco mais nas intenções estranhas, já que seus joelhos conversam com minhas costas como se as chamassem para mais perto. Você me respira e expira de volta obscenidades que minha pele não pode aguentar - um sopro de raiva que me eleva aos extremos. Seguro os cabelos, uma deliciosa tristeza escorre de onde você me prova no meio do peito, rasgando frios por minhas pernas, sem nenhum destino entre o paraíso e o desespero louco, que me joga na parede. Não há licença. Desenho desejos em suas pálpebras para que nunca os encontre, mas peço permissão, aos sussurros, para realizá-los em nossos segundos de vida finais.

Encosto meu rosto no seu, ofegante, delineando seu maxilar como se me contasse uma safadeza de última hora. Observo as perfeições e choro. Como gosto de seus olhos que me questionam, como uma criança tristonha, o que sou para você. Encaro uma cachoeira da qual tenho bebido por tanto tempo. Como posso? E tento descobrir o barulho que isso me causa, quando me afogo sem fundo em um lago no sentido anti-horário. Seu pescoço em meus braços - as pernas envolvem a cintura - e eu tento bagunçar seu cabelo uma vez mais. É ali o agora, sem ir, nem voltar. Assino com um beijo, um cafuné perdido e com o medo de nunca mais te ver.

Douglas Ibanez
(01.02.2016 - 1h02)




quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Horológio de Andrônico


Minha cidade se agita, enquanto danço no anfiteatro. Grécia antiga - o lar da divina arte. Um raio desafia a atmosfera, quebrando o silêncio que o dia após o dia preencheu de amarguras. Não conto a batida, pois sou dançarino do vento. Giro. Dois giros. E a eternidade se mostrou tão abstrata quanto um pedaço de história, visto de dentro de um redemoinho. 

Sou filho do mar, sobrinho do ar e amante do amor. Sou Eros sem asas, desmoronando no submundo, que me aguarda no fim de um oceano de gotas caídas de mim. São 50 ml cotidianos de alma fluída, escorrendo no flerte para debaixo do chão. Eu me viro do jeito que posso, sei disso. Seguro firme em pilastras jeitosas, ainda que desajeitadas, com inclinação ao desastre. 

"Uma tragédia grega!", diria alguém com o mínimo de bom senso. Se a tempestade me atinge, não há o que possa ser feito. Devo esperá-la partir, segurando o céu de um castigo alheio, me oferecido sem recompensas tardias. Me sinto grande, contudo pequeno. Não obstante me estico distante e roubo uma estrela que do dia salvei. 

Eu olho os muros e a plateia de espíritos. São naturezas crescentes, suficientemente vivas para me fazer dançar o despertar das flores. Os deuses me tocam - furtivos - e eu continuo sem saber por onde começar o que nunca terminei. Meus dedos brilham e eu apenas danço, danço e danço. 

Douglas Ibanez
(05.01,2016 - 2h27)


terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Monólogo do Cair


O movimento e a inquietude. Parceiros de uma época recente, que se foi em uma estrela que minha garganta pôs para fora. Há melancolia em sua cadência. Um sorriso iluminado, servindo ao mundo os seus desejos - carentes, insensatos e insanos. Em seu pesar ela despenca e observa as eras que flutuam ao seu redor. Se meu suspiro é alegre ou entristecido - não sei bem o que dizer -, pesco detalhes que somente o invisível consegue me dar. "É divertido!", diz a estrela a si mesma, ao escutar histórias modificadas pelo entusiasmo do outro. Mas são mentiras, eu sei. Eu vejo. Sua sobrancelha permanece franzida e seu brilho grita como nada qualquer. Entretanto os pedidos já foram feitos, dando as costas para o que já passou. Eu me divirto no silêncio, sabendo a verdade que me tornei.

Douglas Ibanez
(22.02.2016 - 23h48)




segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Tão (não) seu


Consigo eu acompanhar o seu movimento? Sem espalhar a merda na parede depois de muito vinho tomado em um cérebro tão sem noção. Abro um tampão na cabeça e remexo lá dentro como quem não quer nada com nada. Eu choro. Não sei que rumo tomar. Faço a mínima ideia qual porra de estrada pode se tornar uma verdade concreta. Me perco. Estou dissolvendo sem saber onde isso vai dar. Isso me assusta, sabia? Tive uma queda pelo desânimo, que de tão galante partiu meu coração. Só respiro, só respiro. Me sinto tão seu e ao mesmo tempo não seu. O que faço? Me diz! Não precisa... já sei sua resposta autodestrutiva que me faz soar tão estúpido aos meus próprios ouvidos. Tenho cogitado escutar Caetano (de novo) ou mesmo Renato e suas poesias de alegorias infundadas, que nunca parei para perceber. Está tocando na TV neste instante. Eu só quero alguma coisa, uma certeza ou um futuro qualquer. Mas se nem minhas palavras eu consigo traduzir de maneira direta, pois já se tornam poéticas para fugir do que é prático, o que dirá as atitudes? O que dirá as decisões? O que dirá as lágrimas? O que dirá o desânimo? Honestamente... não sei e isso me mata.

Douglas Ibanez
(27.12.2015 - 2h38)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Beijo na Testa


Tenho conversado com meu amigo,
sobre coisas que me atormentam o dia,
enquanto ando de olhos abertos.

Ele me conta histórias que já passaram,
me mostrando razoáveis nomenclaturas.

Eu sei o que escuto.
Me lembro do medo!
Do cheiro da cor
e da voz que me espreme.

Procuro meu rosto e a luz que me ilumina,
mas me abraço no escuro
e te digo em meu fundo, meu caro,
uma emoção que me inspira.

Quero falar com você
e preciso para ontem!
Um choro, um afago ou um aperto de mão,
mas preciso de pele,

sem pressa,
compressa! De água quente
no meu coração.

Douglas Ibanez
(09.12.2015 - 23h19)
 

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Ascendente


Uma linha que se divide,
Em um limite que inexiste.
Com a fúria de um pavio curto
Ao se enforcar no escuro.

Douglas Ibanez
(12.11.2015 - 19h11)