sexta-feira, 24 de março de 2017

Sol e Cera


Olhos fechados quando a vela pegou fogo - e assim ela brilhou como qualquer estrela na noite desconhecida. Deu se à luz! E o fogo encontrou em seu peito ceroso um pedaço de paz que não havia experimentado até então - apesar de escorregadio, era ali que vivia sua vontade de estar presente.

Havia calor em suas asas, que abraçaram o ar em volta para aquecer o que se perdia. Pouco a pouco a cera derretia por voar tão perto do sol, abrigando seus desejos de circular horizontes que, talvez, não quisessem companhia - mas estava tão quentinho ali dentro. Porque teria que ser assim? Porquê?

De mente fechada os segundos se cortaram - o fogo se apagou sozinho quando a vela se tornou vazia. Não havia nada presente! O escuro tomou conta da história que se contava sozinha: sem um, o outro era apenas queda livre, mas juntos se desfaziam em um paralelo distante, apesar de conjunto. Sem predileção de momentos: apenas beijos que se queimaram juntos - para sempre.


Douglas Ibanez
(4.3.2017 - 1h33)

sexta-feira, 17 de março de 2017

Lábios Rachados


Está tudo tão perto do chão, caindo em pequenos flocos dançantes pelo ar congelante aqui do lado de fora. E ao mesmo tempo que eu procuro palavras para descrever o que é voar de verdade, sopro apenas fumaça no que continua quieto. 

Eu não entendo muito bem - tento segurar cada letra com dedos que transpassam seu haver de cordas cheias de calor. Pulsante. O mornaço me queima e meus lábios já estão rachados há um tempo, com o vento que acaricia meu rosto - uma metade azul e a outra sangrando, sem saber porquê, como ou quando o tempo virou. 

Mas a cidade é grande e eu estou acostumado a trocar de roupas a cada nova estação no pôr - nascer - do sol. Caso eu não esteja... estarei mesmo assim.

Douglas Ibanez
(4.3.2017 - 1h07)


sexta-feira, 10 de março de 2017

Valentine


Um milhão de margaridas para ver você sorrir, em um segundo de espera quando o ar vem do avesso - um recomeço - sem saber onde vai dar. 

Então eu digo na esquina, o que não vem para depois. Vejo olhos me olhando, me sorrindo como pontos que aprendi a costurar - todos cegos, que ultraje! 

Sem contar a maresia, me ajoelho e me entrego - de relance, bem pertinho. Como disse no poema: cinco tempos sem mais nada. Só discorro as palavras - e me vivo sem deixar. 

Douglas Ibanez
(16.02.2017 - 1h17)



sábado, 4 de março de 2017

(Meus) Velhos Jargões


Tem uma gota caindo na minha cabeça.
Um universo que se esparra-lhama no chão
sob o pensamento que sede à ternura
de uma fração gelada, que ainda canta.

Goteja sobre gargarejos que se repetem, 
com formatos pacíficos de uma janela aberta.
O vento recolhe o que se perdeu por ali, 
enquanto há uma história pairando em minha memória. 

Douglas Ibanez
(23h18 - 27.02.2017)