quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Um solo


Te espero deitado,
de pernas abertas,
contando detalhes
sobre meu corpo nu.

Divido meu dia nos lábios,
silenciando a vontade
de continuar a história,
morta sem saber que viveu.

Em conversas da noite,
são meus arrepios que dizem
gemidos que nunca direi
de olhos abertos.

Eu mordo sua boca
enquanto preencho a alma,
entregue ao meu colo
que continua dançando.

Te fodo no hoje,
em promessa,
que amanhã eu retorno,
porque de você eu preciso.

E deixo escrito,
meus desejos de te fazer,
como erros perfeitos
que continuo criando.

Um oceano
me enxarca de você.
O gosto me permite,
enquanto eu apenas recito.

Adeus e a poesia se vai,
deixando perdida
a minha orgia só sua.
Peregrina, mutável e residente.

Douglas Ibanez
(09.10.2016 - 1h46)




domingo, 6 de novembro de 2016

Colateralmente


Desenho dois arcos em suas sobrancelhas, à noite. É no meio do nada que escuto, calado, o que não sai de você. Deixo meus rastros em suas pálpebras, que permanecem fechadas. Eu gosto. 

Suspiro sem entender e apesar de meu pesar não parecer tão interessante, no momento, me encosto na aura, que teimo em criar, e revelo palavras antigas - estranhamente bonitas - que nem eu sabia conhecer.

Se posso tocar, porque não o faço? Encosto nos lábios o poder que os olhos me dão e me deleito com a alegria imensa de universos que se colidem rapidamente. 

É um tipo de inocência que me prende em um sorriso perfeito. Paro de respirar. Rabisco o mesmo rosto e tento me desvencilhar: não posso. E a energia segue. 

Eu cuido, e descuido, em uma porção de alguma coisa que desconheço, mas que eu prefiro dizer que quero - preciso - reconhecer. Sigo, em detalhes. Quem sabe?

Douglas Ibanez
(23.09.2016 - 03h06)