sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Questões

A vida, verdadeiramente, corre ao nosso piscar, em um sopro de três badaladas da meia noite.

Nascemos,
Crescemos,
Morte.

E a dúvida continua no palco, dançando ao redor do espetáculo, questionando o antes, o agora e o depois: Qual o sentido da vida?

Douglas Ibanez
(17.07.2014 - 09h18)

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Corpo + Mente + Alma = Dança


O mês de agosto começou com novidade para a arte paulistana, que nos dias 02 e 03, teve o prazer de apresentar ao apreciador da dança urbana e contemporânea, a estreia dos espetáculos “Beco” e “ANTI”, do T.F. Style Cia de Dança.

O ambiente já refletia a experiência que o espectador estava perto de vivenciar. Localizada na Zona Leste de São Paulo, a Vila Maria Zélia foi a primeira vila operária da cidade, sendo considerada um patrimônio histórico e um centro de arte e conhecimento cultural. Cada rachadura em suas paredes velhas, janela quebrada e móvel vintage, conta uma história. Uma poesia paralisada no tempo.


Assim, se aproveitando do clima, por que não dizer “macabro” do teatro, o T.F. Style uniu seus espetáculos, coreografados pelo americano Daniel Holt (ANTI), Igor Gasparini e Frank Tavantti (Beco), ao ambiente propício e ofereceu à plateia uma peculiar experiência de envolvimento entre a complexidade interior dos ali presentes, com o exterior que lhes rodeava.


Os dançarinos começam do lado de fora do teatro, emergindo do meio comum daqueles que os assistiam. Passos de dança únicos de cada elemento do grupo, unidos à andadas embaladas por muita pose, davam ritmo ao que parecia um flerte, um charmoso convite para que a plateia pudesse pegar a chave daquele galpão e adentrar além do que era considerado como “palco”, mas sim os medos, conflitos e carmas vividos por cada um.

Qual é o seu beco? O espetáculo coloca cada bailarino contra a parede de uma rua sem saída, como se a dança fosse o único método de descobrir a resposta de sair dali, buscando dentro de cada um a inspiração de seu verdadeiro eu. O galpão? Talvez uma grande cabeça, com uma mente especialmente coreografada no escuro – encontrando pessoas, descobrindo experiências.

A luz de fora chama a atenção, o homem brinca com o exterior. Portas se fecham, enquanto janelas com grades dão falsas esperanças de uma possível libertação. Uma dança contínua dentro de cada um de nós, não somente os dançarinos, muito pelo contrário! A plateia também dança em suas memórias e complexidades mais profundas. Pensamentos.

Becos diversos, amores e desamores, pele à mostra, quatro giros em meio ao seu redor agachado. Com cada elevação de música, os personagens seguem uma jornada à sua possível libertação, primeiramente interna, para depois destruir as grades da janela. Os efeitos de luzes brincam com o corpo, refletindo o íntimo e a humanidade nas paredes em forma de sombras, que engolem os dançarinos, surpreendem o espectador e diverge da última luz que surgiu no meio de tudo.



Escuridão. Os dançarinos retornam, após seus merecidos minutos de intervalo, de forma misteriosa às sombras do local. Quando menos se espera, as luzes se acendem em sua totalidade, cegando a vista da plateia, que enquanto se acostuma com o claro intenso repentino, dá boas-vindas aos novos personagens apresentados.

De olhos e bocas cobertos, combinando com um figurino que traduz uma natureza exposta e doentia, os passos de dança se tornam cada vez mais psicodélicos: algo sem um nome exato, mas que brinca no meio fio de uma calçada entre o street dance e o contemporâneo, uma criação sem rótulo.

A dualidade é trabalhada ao longo de todo o espetáculo, seja do homem alto à garota pequena, da loucura mansa à sanidade insana, ou mesmo da saúde se tornando doença (prepare-se para tossir de forma contagiosa!). O bem e o mal ultrapassam a linguagem do tempo, quebrando a cronologia do costume, propondo o questionamento entre as mudanças de comportamento e suas variantes do que é correto e incorreto.

Um hospício, uma mente ou o cotidiano do ser humano. O contraste traz a luta dentro de todos, a loucura enfrentada a cada dia. Mesmo dançando entre o preto, o branco e o cinza neutro, a história vai criando cores enquanto vai sendo contada. Mas não se engane, você não vai enxergá-las, apenas senti-las ao questionar o quão belo o perturbado pode ser.


Tanto “ANTI”, quanto “Beco”, trazem a peculiaridade do fazer pensar e a dança balança o corpo do dançarino, do coreógrafo e da plateia, refletindo a complexidade do contexto apresentado. Ainda assim, quem for assistir, não se prenda ao seu literal significado, pois a maior graça está no que cada um pode interpretar por si mesmo e os efeitos que ambos geram em seu interior.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Lucem Contritio


Seres humanos, nobres almas penadas correndo ao som de um desespero, que elevado à terceira nota de um dó menor, desonra seu próprio eixo de divindade.

Eles gritam ao mundo de fora, uma graça de tristeza contínua, que lembra um afinado violino banhado a sangue, em uma janela aberta ao socorro perdido.

Sentem um embrulho no estômago enquanto clamam por agonia, esperando a redenção de um novo pecado, que lhes é dado como um prêmio de convocação para um outro dia.

O ser humano é de natureza apática, decodificada nos ecos da morte de um amanhã cheio de incertezas. Ele morre no escuro, olhando para a luz, encoberto por si mesmo.

Douglas Ibanez
(04.08.2014 - 1h03)