quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Oração ao Nome

Em meus momentos de maior confusão, quando o tempo corria ao meu redor numa velocidade absurda, me tirando o ar e causando angústias que eu só havia visto em meus piores sonhos quando criança, eu costumava chamar nomes passados para me manterem ancorado naquele oceano, tão perto da terra à vista, diante da turbulência. 

Eles eram nomes muito diversos. Grafias e sons extremamente únicos, com barbas, cabelos longos, loiros e morenos, sorrisos inocentes e promessas de um dia daqui a um dia. Sem contar o anseio de descobertas que nunca foram e carências que me abraçaram pelas expectativas em minha cabeça de necessidade, talvez, crônica.

Só que eles me puxavam pelo pé e o que era salvação se tornou um erro. Me lembro de fechar os olhos, enquanto os monstros arranhavam por dentro as paredes do meu corpo, e fazer uma oração, mais rápida do que o meu medo poderia agir. Eu pedia pelo nome da vez. Soprava a vela e o repetia mil vezes para que ficasse, mas sem nunca realmente ficar, porque nunca estivera ali. 

Quando recebe um nome, isso quer dizer que é seu. Então porque cargas d'água eu queria o nome dos outros? Um finito punhado de letras com significado tão limitado quanto o tempo que o vento leva para bater na palma de sua mão e levá-lo para longe, deixando você finalmente perdido, rezando por um nome que não está lá. Que nunca esteve.

Por isso, a todos os escritos que já passaram, hoje eu peço licença e me recuso a lembrar de um outro nome que não seja o meu próprio, aquele que não se vai. Pois está atrelado em minhas veias, como um rio de águas escuras cheias de história. Isso não significa que nomes alheios não sejam belos ou relevantes, como árvores que brotam dessa calçada paulistana tão ambígua, muito pelo contrário! Eles me acompanham, só não são meus. 

Por isso, eu só peço a mim mesmo... me salve. Que seja você a abraçar o que me é vulnerável e o que conta histórias infiltradas no meu peito de maneira tão perpétua e imortal ao mesmo tempo. Pois é em seu nome, meu nome, que eu vejo a vida fazendo sentido, mesmo quando o medo sussurra exatamente o oposto. Sopre em meus ouvidos e me fortaleça, por favor. 

Obrigado, até aqui chegamos. 

Continuemos. 

Douglas Ibanez

(26/01/2021 - 2:31)