quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Sol Oriens

Me apaixonei pela lua

Numa noite molhada,

No meio do vale, subindo a rua, 

O sereno no rosto e a vergonha sentada. 


Eu era uma estrela de brilho virgem

Que escrevia poemas em papéis quaisquer,

Incluindo problemas em qualquer vertigem

E comendo o mundo em pequena colher. 


Mas eu não podia competir com estrelas, 

Aleatórias ao redor da lua, 

Que gritavam em quantidade de centenas, 

Centelhas de vida que clamavam ser tuas. 


Eu era um invisível só dando voltas, 

Implorando por luzes que nem suas eram,

Caminhando por ruas de incertas rotas, 

Cujos olhos me injetou, enxergou e esperam.


Então percebi, sem deleites, 

Que o sol também era uma estrela.

Sem lua que o aceite! 

Com noite extrema vazando por minha ourela. 


Para que o escuro, que pertence ao luar, 

Com tantos brilhos ao seu dispor, 

Se um dia inteiro eu me permito pintar

Antes mesmo do sol se pôr?


Com dedos pontilhados,

Desenho aquarela no tecido do céu.

Do azul ao cinza e o laranja rosado, contemplado,

Daquilo que pertence ao meu sobrepor do véu.


Você tem um bonito sol, disse a si,

Uma estrela tranquila na minha manhã.

Não havia medo das chuvas daqui,

Enquanto faziam parte deste hoje-amanhã.


E eu espero, sinceramente, que a lua diante esteja

Daquilo que a alma nos conta nos sonhos.

Que a solidão, por difícil que seja, 

Lhe reflita na água seu estado risonho.


Não chore, 

Se erga!

Pegue o que lhe consome, 

Dance na luz e se veja.


Em mim, havia razões que se foram no porto,

Admirando as cortinas do que se cobria.

O sol, outrora tão virgem, outrora tão torto,

Se viu distante, se via morto, diante daquilo que ele agora vivia.


Douglas Ibanez 

(02/01/2019 - 2h04))