quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Horológio de Andrônico


Minha cidade se agita, enquanto danço no anfiteatro. Grécia antiga - o lar da divina arte. Um raio desafia a atmosfera, quebrando o silêncio que o dia após o dia preencheu de amarguras. Não conto a batida, pois sou dançarino do vento. Giro. Dois giros. E a eternidade se mostrou tão abstrata quanto um pedaço de história, visto de dentro de um redemoinho. 

Sou filho do mar, sobrinho do ar e amante do amor. Sou Eros sem asas, desmoronando no submundo, que me aguarda no fim de um oceano de gotas caídas de mim. São 50 ml cotidianos de alma fluída, escorrendo no flerte para debaixo do chão. Eu me viro do jeito que posso, sei disso. Seguro firme em pilastras jeitosas, ainda que desajeitadas, com inclinação ao desastre. 

"Uma tragédia grega!", diria alguém com o mínimo de bom senso. Se a tempestade me atinge, não há o que possa ser feito. Devo esperá-la partir, segurando o céu de um castigo alheio, me oferecido sem recompensas tardias. Me sinto grande, contudo pequeno. Não obstante me estico distante e roubo uma estrela que do dia salvei. 

Eu olho os muros e a plateia de espíritos. São naturezas crescentes, suficientemente vivas para me fazer dançar o despertar das flores. Os deuses me tocam - furtivos - e eu continuo sem saber por onde começar o que nunca terminei. Meus dedos brilham e eu apenas danço, danço e danço. 

Douglas Ibanez
(05.01,2016 - 2h27)


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