domingo, 9 de novembro de 2008

O Muro


O menino brincava na calçada. A calçada brincava com o brinquedo. O brinquedo era a brincadeira do menino. E nada mais importava. Ele só queria passar uma tarde se divertindo em seu pequeno mundo simples e despreocupado chamado de infância.

Naquela tarde, do outro lado da rua onde um enorme muro separava os pedestres da linha ferroviária, um grande e barulhento trem cortou uma linha inesperada e consigo trouxe novas sensações e pensamentos.

Agora o menino não se sentia mais menino e sim outra coisa que ele não sabia dizer o que era. Possuía sensações que ele nunca tivera antes na vida e isso o fazia duvidar, perguntar e questionar sobre sua verdadeira função naquele lugar. Então com uma grande curiosidade, deixou seu brinquedo na calçada e atravessou a rua afim de descobrir algo que ele ainda não conhecia.

Com a ajuda de uma escada e de sua força, o menino subiu sobre o muro e após se sentar pode observar o que estava além daquilo que ele conhecia, ele pode saborear o que o desconhecido lhe oferecia.

Sem saber exatamente o que era, viu algo denominado cirrose, o câncer e a overdose. Viu pessoas sendo mortas por outras pessoas e mais pessoas sendo mortas pelo trem que acabara de passar minutos atrás. Então ele percebeu que o mundo não era feito de coelhos e cachorros como ele imaginava, mas sim do lixo cinza e apodrecido do cotidiano humano com o qual somos obrigados a conviver todos os dias de nossas vidas.

Ao descer do muro naquela tarde, o menino não decidiu que função daria para sua vida, mas sem saber, havia denominado inconscientemente o sentido da mesma, ele se tornara escritor.


Douglas Ibanez

2 comentários:

Anônimo disse...

você tem talento, garoto! :D

Rosana Ibanez disse...

É verdade, hoje em dia até as crianças estão tendo consciência do quanto o mundo lá fora é cruel e assustador. É uma pena, pois a infância é um período mágico na nossa vida, em que tudo é colorido como balões que soltam-se e explodem no ar, onde os sonhos podem tornar-se realidade e a nossa imaginação não tem limite. Mas a realidade é muito diferente de tudo isso, e até as crianças já tomam conhecimento disso, e além das inúmeras interrogações,que é normal, acabam amadurecendo muitas vezes antes do tempo...