terça-feira, 18 de agosto de 2020

Eu, Bissexto


O relógio não gira,
só que o tempo passa direto
pelo meus dedos,
não como areia de ampulheta,
- antes fosse! -
mas como poeira que o tempo,
esse bendito tempo,
não contou em seus segundos.
Sabe aquele resto de tempo,
tão incontável,
tão esquecível,
que do resto vira resto?
Que vira bissexto?
Pois é isso que escrevo, todos os dias,
na poeira impregnada
nas paredes do meu quarto.
Eu me sinto bissexto, desde ontem,
ou seria desde março?
Talvez desde outubro desse ano
que ainda não chegou e já se foi?
Sei lá... teve domingo também.
São quatro em quatro em anos
dentro de um único lapso de dia.
Tenho sobrevivido
e o dia 29 de fevereiro continua marcado
no calendário sem importância
do dia após dia.
Um sentimento bissexto,
completamente aleatório,
dispensável apesar de necessário,
só para que a rotação continue
em uma quarentena regada
aos olhos do que mais tememos.
E eu tenho rodado, como eu tenho (...)
e estou cansado de tanto rodar,
de tanto anseio sem definição,
das palavras escritas que caíram do teto
e se espalham em meio às roupas jogadas.
Não tem fim,
nem um começo.
E eu aqui, escrevendo para o tempo
que parte de novo e me parte de jeito,
escorrendo sem pressa nenhuma,
mas com toda a velocidade
que poderia se dispor.
Que assim seja!
Que assim seja!

Douglas Ibanez 
(18/08/2020 - 2:39)


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