quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Memórias Inventadas por Alguém Desconhecido


Hoje acordei nada normal. Para dizer a verdade, estava normal por não ter acordado normal, isso é frequente em minhas manhãs bem proveitosas. Abrir os olhos, colocar roupa seca e confortável, escovar os dentes, tomar leite e enfrentar o cotidiano que bate todos os dias na porta de nossa face dizendo bom dia.

Claro que, como todo dia, peguei o metrô logo cedo, em seu horário de "menor" movimento, ás 07:00 da mahã. Portado de minha mochila estampada, que combinava perfeitamente com minha reta posição exercital, senti logo cedo o que era estar em um mesmo lugar, com gente mal-humorada como eu naquele momento, olhando um para o rosto do outro com feição de paisagismo e de cultura aparente.

Foi quando de repente, algo interessante aconteceu. De total boa vontade, uma mulher que estava sentada em minha frente tomou a generosa atitude, muito comum nos metrôs de São Paulo, de pegar minha mochila e segurá-la para mim, aliviando então o peso aparente em meu tórax magro e sem muitos atrativos.

De imediato passou-me pela cabeça o pensamento de como aquela mulher, jovem e madura, fora simpática e generoza, me dando uma rápida anestesia da vida. Foi quando então, sentindo o balanço desenfreado do transporte e o clima térmico do ar, percebi algo espectral, profundo e complexo, para alguém que estava com uma manhã nada literal.

Aquela mulher, sentada em minha frente, observando algo que somente ela estava observando, daquele modo e naquelas circunstâncias, havia em sua vida tudo aquilo que podemos considerar como vivência.

Seu olhar, desconhecido porém conhecido, era cheio de vivências que eu não poderia dizer quais eram, afinal nunca a conheci, mas eu sabia que em suas veias e artérias corriam substâncias que a faziam estar caminhando por aquele caminho, sentada no assento do metrô.

Nela havia morte. Assim como também havia vida. Eu sabia que em seu olhar estavam perdidas alegrias e tristezas de uma vida que já havia passado e que continuava a passar a cada segundo. Eu seu rosto, cada marca de expressão, contava uma história diferente, repletas e recheadas de frustrações constantes e deprimentes, felicidades vibrantes e concorrentes. Um estado de espírito, que outrora fora vivo e despreocupado, deixava fragmentos em seus cabelos ainda molhados do banho matutino.

Indentifiquei-me naquele instante. Não por suas memórias inventadas por alguém desconhecido como eu, isso poderia ser tudo uma simples ilusão, mas pelo fato de saber que a cada segundo e momento que se passava, ela, assim como eu, sofria e sorria por experiências vividas de uma vida marcada.

Uma estação chegou e ela se levantou. Devolveu-me a mochila, deu um sorriso simpático e juvenil e saiu pela porta a fora atrás de seus sonhos e realizações. Não vi para onde foi e nem sem quem era, mas deixou algo para trás, uma inspiração suspensa no ar que captei com uma forte respiração mental.

A cada minuto pessoas passam ao nosso lado, andando depressa e seguindo em frente. Nós, centrados em nossos próprios momentos, não percebemos, mas cada pessoa possui uma vida, uma história, uma experiência e um plano que a transforma naquilo que ela é. Infelizmente permanescemos fechados demais em nossas vidas complexas para perceber e sentir a complexidade de cada um ao nosso redor.

Até logo pessoal.
Abraços.

20 comentários:

railer disse...

é tão bom quando a gente se depara com pessoas assim, que fazem diferença. sempre cultivo a gentileza.

La Sorcière disse...

Já tive esta sensação de cruzar com alguém e aquela impressão de anonimato extrapolar e eu pensar na vida enos percalços daquele estranho, que naquele momento, está à minha frente. Entendi perfeitamente o que vc senti!
Bj

PS: obrigada :)

Rafael Silveira disse...

Douglas. Seu post foi o primeiro que eu li nessa manhã. Uma ótima lição! Observar as coisas ao nosso redor, e ver que existem pessoas que interagem conosco.
Muito bom! Parabéns!

ludmilla disse...

Adorei o seu post , vc escreve maravilhosamente bem ...parabêns ..
vou acompanha seus post ...
bjuuu

http://ludmilla-ludcat.blogspot.com/

ludmilla disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Em uns dos livros que li do Augusto Cury ele sempre fala a respeito de contemplarmos o belo e percebo muitas vezes exatamente isso que você falou precisamos dar mais valor ao nosso redor, abrir no coração, ver com os olhos do corção!!!

Sempre é bom passar por aqui, adoro suas reflexões e lições...parabéns!!!

Abraços....

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Este entrelaçamento de vidas diário é encarado por nós como algo supérfluo e descenessário. Por muitas vezes nem cumprimentamos conhecidos de tão absortos e inertes em nosso cotidiano. Falta à humanidade um pouco daquilo que ela realmente é, de compaixão, de reconhecimento, de piedade até. A cultura do "vizinho-que-se-foda" é bastante resignável, e vamos nos acomentendo mais a fundo no poço da mesmice e e do patético. Ficamos sem ação diante de tais gestos, tão simples quanto aliviar o peso de uma mochila. Eu mesmo sou descrente quanto a isso, tento me convencer do que escreveu, mas é pertinente, e não só, é tremendamente necessário.
Ótimo post, excelente conteúdo, como sempre.
Abraços. ;)

Belle disse...

Douglas, vc tem toda razão qdo diz que mtas vezes estamos tão centrados no nosso próprio eu, que esquecemos q um turbilhão de histórias como a nossa ou que podem nos acrescentar de alguma forma, estão vagando por aí...
Simplesmente vc foi fundo em seu texto!!!
Tb postei recentemente sobre o significado das pessoas que passam em nossas vidas... ;)
bjão

Anônimo disse...

A Amizade é virtual, mas o carinho é real!

Esse selinho está lá no blog de presente para você!!!

Bom final de semana...

Obrigada pelo carinho!!!

Ana Luiza disse...

Menino... Como você escreve divinamente bem!!!

Me identifiquei tanto com este post em particular.

Todos os dias em que saio da faculdade eu pego o ônibus de volta, as vezes cheio as vezes vazio, e me deparo com pessoas desconhecidas, algumas solícitas como essa mulher gentil que carregou sua mochila outras nem tanto...

Sinto medo, ansiedade, excitação enquanto ando pra casa... Vendo as pessoas que não conheço passarem por mim, algumas paqueras mal-dadas, alguns rostos sofridos, outros preocupados...

É quase uma odisseia que nem percebemos, mas que vivemos todos os dias.

Não resisti e te linkei no meu blog :x

Rosana Ibanez disse...

Um dia conheci uma pessoa numa fila de banco e fiquei por quase 60minutos conversando com ela e nesse intervalo de tempo fiquei sabendo de toda a sua vida, pois a pessoa era muito espontânea...Quando ela se despediu de mim, disse um simples "até logo" e nesse momento percebi que aquele "até logo" na realidade seria "adeus", pois nunca mais na minha vida a veria novamente. E dai por diante, vira e mexe essa pessoa aparece na minha memória, do nada lembro-me dela e do até logo que foi um Adeus. Não esqueço nem do dia e nem da hora que isso ocorreu! Interessante e olha que já se passaram 15 anos...
beijos e lindo post, meu pequeno jornalista.

J.E. disse...

Às vezes eu sinto isso, sabia? É tao estranho e tão..´. profundo. Consegue transformar o dia.

Douglas Ibanez disse...

railer, também gosto de pessoas que cultivam gentilezas.. significa que elas sabem o que um pequeno detalhe pode fazer =D

La Sorcière, alguém anônimo e com uma carga tão pesada de vida. É estranho como não temos noção disso não é?

Rafael, as pessoas e as coisas ao nosso redor estão lá e interagem todo o tempo com a gente, só basta nós tentarmos enxergar, certinhoo?

ludmilla, obrigadããããããão.. mesmo, mesmo. Fico muito contente que tenha gostado =D. Pode seguir e sinta-se a vontade ok? Bjo

Mari! Obrigadão ^^
Concordo, temos que olhar mais com os olhos do coração e sentir no lugar de apenas ver..

Ana Luiza, obrigado primeiramente por TUDO que disse. Isso faz um bem sabia? ahuahuahau
quanto ao post.. sim, a gente encontr tudo em todos os lugares é mesmo uma odisséia.. bjo

Douglas Ibanez disse...

Valeeew Maycon. Isso é real necessário para nós. Seilá, ter percepção do mundo a fora, do universo interno de cada um, é muito maior do que apenas o nosso.. abraçoo

Pois é Belle.. estamos as vezes demasiadamente olhando para o nosso grandioso umbigo e esquecemos dos olhos dos outros..

Rosana.. existe tantas pessoas que simplesmente se vão, sem saber o que deixaram para trás. Talvez se soubessem não teriam indo, talvez se não tivessem ido, não teriam deixado nada..

Exato Jaque. Consegue transformar o dia. É uma coisa bem complexa e profunda.. mas que facina..

BEIJOS E ABRAÇOS!!
Logo logo eu posto ok?

faloow

Duh disse...

Muito verdade isso.
Estamos rodeados de pessoas desconhecidas a todo dia.
E nunca as tratamos como "pessoas" que tem uma história de vida, familia, amigos. Uma história, como nós!

muito bom!
abraço

Anônimo disse...

Oi Doug!
Saudade desse cantinho. Andei sumida, confesso.
Eu entendi perfeitamente você, muitas vezes isso acontece comigo e me perco em experiencias desconhecidas, passadas e alheias!

Beijo;

Linda disse...

Sabe que eu já pensei bastante sobre isso... Principalmente quando estou na sinaleira e vejo pessoas atravessando pela faixa de pedestres... um tão diferente do outro, mas cada um tem sua vida, seus problemas... As vezes uns são tão frios com os outros e nem imaginam o que cada um está passando, pode estar sofrendo por doença na família ou até mesmo ela mesma tem uma doença grave... só que as pessoas não demonstram e nós não pensamos nisso... Eu tento ser simpática sempre, mas nem sempre as pessoas são receptivas.... Falando nisso, sabe que eu sou uma pessoa linda por dentro, mas nem todo mundo me trata como se eu fosse, muito pelo contrário.
Mas eu já estou acostumada, depois que as pessoas me conhecem, me amam!!!! hahahahaha
Não devemos julgar ninguém sem conhecer primeiro.
Grande beijo e ótima semana pra vc!!

Paty L. disse...

Muito interessante! Eu até tava falando sobre isso ontem...
Eu mesma pego ônibus todo dia de manhã, umas 6:00, ônibus lotado na maioria das vezes e realmente todo dia as pessoas se olham. Eu mesma fico imaginando a vida de cada uma, muito interessante isso.
Aqui é mais comum as pessoas pegarem as bolsas, livros; raramente isso não acontece.
Também tem pessoas que se conhecem pelo ônibus. Já falei com muita gente que não conhecia no ônibus e nunca mais as vi novamente. Mas de alguma forma faz um diferencial ^^
Sempre me identifico com seus textos! Parabéns :)

Lico disse...

É difícil pensar que milhars de vidas passam por nós todos os dias heim. Mas...

Nossa realidade termina onde começa a dos nossos semelhantes.