quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Terça de Chuva

A chuva de Terça-Feira era incessante, cada gota caída em forma de fluxo na calçada, já molhada pela madrugada a dentro, fazia um som diferente a ser ouvido. Talvez não ouvida por todos, mas sim por um menino, simplório como só, que achava que nada de pior podia lhe acontecer mais naquele dia tão horrendo.

Desceu pela grande rampa acinzentada, cheia de pessoas subindo e descendo, preocupadas com suas próprias vidas em seus próprios mundos paralelos, sem muita percepção ao seu redor, na verdade, pensava apenas em coisas que estavam fazendo sua cabeça doer, como o ronco forte de seu estômago, esperando ansioso pela comida deixada pela mãe em casa, ou com o guarda-chuva que mais parecia um urubu despenado em plena chuva destruidora.


A rampa teve seu término e a rua logo apareceu e para seu incrível dia continuar a ter uma bela tarde de puro descanso, só lhe restava aquilo, que mesmo assim aguçou, confessando, sua incrível curiosidade de observação às coisas alheias.

A rua estava inteira molhada e os animais pareciam agitados, correndo de um lado para o outro enquanto observavam os policiais ao lado de um corpo, aparentemente imóvel. Olhos curiosos analisavam e comentavam, mesmo sem palavras, aquilo que parecia ser um atropelamento, em plena rua enxaguada de desilusão.

Sem pensar em sua posição de um possível carniceiro à espera da carne pútrica, o garoto se juntou a todas as mentes curiosas, que tinham, naquele mesmo momento, o mesmo pensamento que parecia ser transmitido apenas pela observação dos olhares ou da telapatia, possivelmente escondida.

De uma risada sarcástica dada sem tirar a seriedade da situação, o garoto pensou em quanto ganharia algum daqueles cidadãos, inclusive ele, se trabalhasse em um programa sensacionalista de televisão onde só publicavam matérias que tinham algo relacionado à vida alheia, o que provavelmente os levariam a riqueza, se fosse julgar pela ambição de cada olhar.

Porém, em um instante, quase despercebendo, por ter se irritado com a fumaça intrometida do cigarro vizinho ou com o xingamento que acabava de lançar na água que molhara parte de sua calça e de seu tênis, e ele odiava tênis molhado, ele notou, sentiu, ou quem sabe apenas percebeu um olhar que não havia percebido antes.

Em meio a toda aquela desesperada movimentação humanóide, um cachorro, daqueles que tombam lata à luz da dia mas com uma pitada de raça bela, com um belo pêlo médio e dourado, que brilhava como o sol, mas que no momento estava triste e enxarcado, sentou-se, se protegendo da chuva e olhou para o corpo, que felizmente não estava morto, com um olhar jamais esquecido.

Era uma espressão não de quem estava surpreso, mas sim de quem estava pensando e analisando toda a situação. Era um olhar de "pobre moça, tão nova" ou até mesmo "de quem teria sido a culpa desse acidente, dela ou talvez de um motorista imprudente?". Não era um simples olhar, era um pensamento sobressaindo da mente daquele pobre porém lindo cão que analisava com seriedade cada parte da cena acontecida e molhada pela chuva repentina.


Talvez ele só estivesse curioso, como todos aqueles animais que estavam ali anteriormente, velando a menina chorar de dor e susto. Ou quem sabe nem mesmo pensando estava, o barulho da chuva pode ter apenas lhe assustado. Mas para mim, para o garoto simplório, aquilo significava muito mais do que apenas um instinto, era a prova de que nem sempre, sabemos quem é o devido animal.

Um grande abraço para todos,
vejo você logo mais.
Tchau!

8 comentários:

Anônimo disse...

bom texto,
aquele do tipo bom de se viajar em idéias.

abraço

uerlle costa

Rosana Ibanez disse...

Olá Douglas!!
Lindo texto, amei mesmo!
E por falar em chuva ela castigou mesmo a nossa cidade terça-feira e segundo os jornais foi a maior chuva contínua dos últimos 10 anos, além de ocasionar muitas mortes. Pessoas soterradas, rios transbordando, enchentes, trânsito parado, isso é apenas um resumo da terça, infelizmente.
Beijo no coração.

Paulo Alt disse...

Oii
Ficou um tempo sumido do blog neh, rs. Cara, brigadão pela visita no meu. Ah, e valeu pelos parabéns tb ^^

Seu post tá excelente. Você sempre escreve né? Deve ter bastante obras primas dessa ai no pc. Seu conto me pareceu bastante um estilo Carlos Ruiz Zafón. Já leu algum livro dele? Recomendo. Gosto muito.

garoto simplório, rs.

Abraçoo!

[vi o post do True Blood ai embaixo, ainda quero ler]

La Sorcière disse...

Oi querido!!
Que texto SHOW!! Amei! Vc escreve bem demais!
Bj

Anônimo disse...

Meu amigo Douglas...

Me embalei nesse seu texto que não desgrudei o olho da tela até terminar, uma salva de palmas, ficou excelente. O Final nem se fala, ótimo! Que dia vc vai publicar o seu livro? Me convida para a sessão de autógrafos, kkk!!!

Bom final de semana... Abraços!

Paty L. disse...

se clicar em cima da foto vai abrir um vídeo :)

aah, desculpa, eu não li, tou morrendo de sono e com um leve efeito do alcool.

adoro essa foto, do casal na chuva, já postei no meu blog ^^

vou tentar ler...

Agatha disse...

Já reparou que agora toda terça feira chove?

Douglas Ibanez disse...

Pessoaal!!
Obrigado, por tudo mesmo.
Fico muito feliz que tenham gostado =D
muito muito mesmo, vocês aqui é de extrema importância para mim, sério mesmo, muito obrigadooo..

e sim, toda terça chove agora.. que coisa não?

Abraços
e Beijos